A educação deve ser a maior prioridade para os novos governos para 78% dos responsáveis pelos estudantes brasileiros, ficando à frente de outros temas relevantes, como saúde (66%) e segurança pública (21%). Os entrevistados destacaram que os governantes devem garantir maior oferta de formação de professores, a ampliação do uso de tecnologia nas escolas e a promoção de programas de reforço e recuperação de aprendizagem, igualmente com 21% cada.
Os resultados fazem parte da décima onda da pesquisa “Educação na perspectiva dos estudantes e suas famílias”, encomendada ao Datafolha pelo Itaú Social, Fundação Lemann e BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento). O levantamento foi realizado em dezembro de 2022 com 1.323 responsáveis por 1.863 estudantes de todas as regiões do país, e retrata a visão das famílias sobre o primeiro ano de retorno presencial das aulas após a pandemia da Covid-19.
Outro tema abordado é a oferta de reforço escolar. Nesse sentido, metade dos estudantes (50%) contaram com essa possibilidade, sendo que, no mesmo período no ano passado, o índice era de 43%. O levantamento aponta que esse crescimento de vagas ocorre de forma desproporcional entre as etapas da Educação Básica. Enquanto 56% dos estudantes dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental (1º ao 5º ano) têm aulas de apoio, para os alunos dos Anos Finais (6º ao 9º ano), o percentual é de 48%.
“A retomada das aulas presenciais nas redes de ensino foi um marco na vida de crianças e jovens em idade escolar após o período mais crítico da pandemia. Agora, é preciso ter um olhar atento e propor ações ágeis e eficientes para mitigar o alto índice de evasão escolar, a defasagem na aprendizagem e os desafios relacionados à saúde mental que atingem nossos estudantes. Importa ainda que isso seja feito em todo o território nacional, com ações estruturadas de forma conjunta, garantindo a equidade e qualidade, requisitos básicos para a efetivação do direito à educação”, enfatiza a superintendente do Itaú Social, Patricia Mota Guedes.
Alfabetização
Para os entrevistados, quatro a cada dez estudantes (40%) estão enfrentando algum desafio para se alfabetizar. Em maio de 2022, esse número era de 45%, e, embora esteja um pouco menor agora, ainda representa imenso desafio para o país.
Na avaliação dos pais, 10% dos estudantes de alfabetização estão em nível muito abaixo do esperado em relação à leitura e escrita. Esse número chega a 24% em escolas localizadas em regiões mais vulneráveis. A boa notícia é que as avaliações para conhecer as dificuldades dos alunos acontecem principalmente na fase de alfabetização (73%).
Anos Finais
Já nos Anos Finais do Ensino Fundamental, o desafio parece ser a ausência de avaliação: 35% dos entrevistados acreditam que o principal problema da escola em relação às perdas de aprendizagem pela Covid-19 ocorre porque a escola não está fazendo o suficiente para avaliar a perda de aprendizado e identificar áreas que os adolescentes precisam de apoio.
Ilustra esse cenário de ausência de avaliações o fato de os responsáveis acreditarem que os professores conhecem pouco a respeito das dificuldades de aprendizado de quase metade dos alunos (46%), além de perceberem que, para 49% dos estudantes, há pouco apoio individualizado para aqueles que não estão conseguindo acompanhar as aulas nessa etapa escolar.
Apoio Psicológico
Com relação ao apoio psicológico, atualmente, 44% dos estudantes estão matriculados em escolas que oferecem esse tipo de ação. Entre aqueles que participaram do apoio psicológico (23%), a percepção é de que se sentem mais integrados (98%), mais felizes no dia a dia (97%) e mais envolvidos com a escola (96%). A oferta de apoio psicológico aos alunos é maior nas regiões Sul (56%) e Centro-oeste (52%), contra 40% na região Norte e 41% nas regiões Nordeste e Sudeste.
Segundo os responsáveis, 14% dos estudantes realizam ações de apoio psicológico fora da escola. Além disso, 65% das famílias indicam que alunos não atendidos por apoio psicológico fora da escola gostariam de contar com o serviço.
Este é um tema que merece atenção dos gestores públicos também: entre maio e dezembro de 2022, passou de 33% para 40% o índice de estudantes que, na visão de seus responsáveis, estão precisando de apoio psicológico; e de 34% para 38% a proporção de estudantes com dificuldades para controlar suas emoções, como raiva e frustração. Mais de 60% das famílias acreditam que o principal problema da escola em relação à forma de lidar com as questões de saúde mental dos alunos é a falta de profissionais qualificados.
Saiba mais
Confira as edições anteriores da pesquisa “Educação não presencial na perspectiva dos estudantes e suas famílias”: