Com escolas fechadas desde março, após anúncio oficial da pandemia pela OMS (Organização Mundial de Saúde), os desafios para superar as perdas e evitar maiores retrocessos na aprendizagem de crianças e adolescentes foram muitos. No entanto, já é possível identificar os principais legados decisivos para a educação: maior envolvimento das famílias na rotina escolar, a valorização dos professores e a aceleração do uso das tecnologias.
É o que aponta a quarta onda da pesquisa Educação Não Presencial na Perspectiva dos Estudantes e suas Famílias, realizada pelo Datafolha e encomendada pelo Itaú Social, Fundação Lemann e Imaginable Futures. Foram entrevistados 1.021 pais ou responsáveis de estudantes das redes públicas municipais e estaduais, com idade entre 6 e 18 anos, no período de 16 de setembro a 2 de outubro.
Famílias
O estudo apontou que 51% dos responsáveis consideram que estão participando mais da educação dos estudantes, no período da pandemia. Este índice sobe para 58% na região Sul e 57% no Centro-Oeste.
Também aumenta para 58% entre os responsáveis com maior escolaridade, contra 47% entre os que têm nível fundamental. E 72% concordam com a afirmação de que estão com mais responsabilidade pela educação dos estudantes durante a pandemia, do que antes dela.
PARTICIPAÇÃO DAS FAMÍLIAS
Professores
O levantamento aponta que 71% dos responsáveis pelos estudantes estão valorizando mais o trabalho desenvolvido pelos professores e 94% consideram muito importante que os docentes estejam disponíveis para correção de atividades e esclarecimento de dúvidas durante as aulas não presenciais.
“Famílias estão acompanhando mais de perto o ensino para seus filhos, e valorizando ainda mais o papel central do professor. São transformações que vêm para dar mais força a iniciativas de valorização da profissão docente, assim como da parceria família-escola”, explica a gerente de Pesquisa e Desenvolvimento do Itaú Social, Patrícia Mota Guedes. Para ela, os dados sobre o contexto podem e devem ajudar a direcionar as políticas intersetoriais, tão necessárias para o desenvolvimento integral dos educandos, especialmente nos territórios em situação mais vulnerável.
VALORIZAÇÃO DO TRABALHO DOS PROFESSORES
Tecnologias
Em setembro, 92% de estudantes brasileiros receberam atividades para fazer em casa, contra 74% em maio. Destas, 32% são enviadas para dispositivos eletrônicos (computador ou celular); 56% também recebem material impresso, além do conteúdo pela internet, e 4% recebem apenas material impresso.
O aumento de estudantes com acesso aos conteúdos ocorreu em todas as regiões do país, sendo o Norte a com menor índice de acesso. Em maio, o Sudeste registrou 85%, o Sul 94%, o Nordeste 61%, o Centro Oeste 80% e o Norte 52%. Já em setembro, o alcance de alunos que receberam atividades em casa passou no Sudeste para 94%, no Sul 96%, Nordeste 87%, Centro Oeste 97% e Norte 84%.
Entre os entrevistados, a maioria (64%) considera que as aulas não presenciais foram eficientes no aprendizado aos estudantes, enquanto 36% afirmam que não foram eficientes.
EFICIÊNCIA DAS AULAS REMOTAS
Desafios
O mapeamento mostrou também os principais desafios que devem ser enfrentados de agora em diante. Os estudantes estão menos motivados para realizar as atividades em casa. Em maio, 46% se sentiam desmotivados, agora são 54%.
A percepção das dificuldades de estabelecer uma rotina de aprendizagem em casa passou de 58% para 65%, de maio a setembro. Nos anos iniciais chega a 69%. Também para 28%, o relacionamento em casa piorou após o início das atividades remotas, contra 21% em maio; nos anos iniciais esse índice é de 30%.
E o medo de abandonar a escola se manteve como em maio, em 30%, depois de ter chegado a 38% na edição anterior da pesquisa, em julho. “A evasão e o abandono escolar não são um evento pontual, mas algo que terá reflexo sobre o estudante, sobre sua família e sobre a sociedade como um todo, aumentando ainda mais a desigualdade. Toda a sociedade deve estar engajada para evitar que o estudante desista da escola”, diz o diretor executivo da Fundação Lemann, Denis Mizne.
A investigação traz ainda um retrato mais abrangente da pandemia, para além de aspectos diretamente relacionados à educação. O fechamento das escolas tirou refeições importantes para estudantes em situação vulnerável, por exemplo. Para 42% das famílias, a falta de refeição que os estudantes faziam na escola está pesando no orçamento, com destaque para o Nordeste, que chega a 52%.