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Para ampliar o repertório

Durante contraturno escolar, iniciativa pretende promover iniciação musical a 150 crianças em situação de vulnerabilidade em Lagoa do Itaenga (PE)


Busca ativa e sensibilização nas escolas foram as estratégias utilizadas para chegar ao máximo de crianças possível. Foto: Michele Manoel/itaú Social

Por Wallace Cardozo, Rede Galápagos, Salvador (BA)

O ensino da música na educação básica é obrigatório em todo o Brasil desde o dia 18 de agosto de 2008, de acordo com a Lei nº 11.769. Quase 15 anos depois, não é possível dizer que a legislação garante a oferta do conteúdo nas escolas do país, sobretudo nas cidades pequenas. “Apesar da lei, não existia o ensino da música no nosso município. O projeto surgiu para ocupar essa lacuna”, relata Érica Moraes, coordenadora-geral do Minha Primeira Opção — Educação: Instrumento que Transforma, projeto ao qual se referiu.

A iniciativa é uma realização do Centro de Desenvolvimento Integral em Lagoa de Itaenga (Cedili), uma das organizações selecionadas pelo Edital FIA (Fundos da Infâncias e da Adolescência), organizado pelo Itaú Social. O edital está apoiando 73 iniciativas que realizam ações de garantia do direito à educação, de promoção da vida e saúde, como combate à fome ou de manutenção da saúde mental, e de prevenção da violação de direitos. Os projetos apoiados devem ser executados ao longo do ano de 2023.

O pequeno município de Lagoa do Itaenga, no Pernambuco, fica a cerca de 70 quilômetros do Recife. A escassez de oportunidades e a curta distância até a capital fazem com que muitos dos moradores optem por estudar ou trabalhar em outras cidades. O contexto local é de grande vulnerabilidade. Dados obtidos pelo Cedili apontam que, dos pouco mais de 21 mil habitantes, cerca de 14 mil estão inscritos no Cadastro Único, sistema de dados da União para o cadastramento de famílias de baixa renda em programas sociais.

O Cedili foi fundado em 2007, fruto de uma atividade do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA) que tinha a proposta de atender meninas em situação de gravidez precoce por meio da oferta de proteção básica e orientação. Desde então, a organização desenvolveu projetos para públicos de todas as faixas etárias, com foco em crianças e adolescentes e nos territórios com altos índices de vulnerabilidade.

“Até o ano passado, as crianças estudavam pela manhã ou à tarde e não tinham nada para fazer no turno oposto”, conta Érica. A organização entendeu que a ausência de atividades no contraturno escolar contribuía para situações de vulnerabilidade. O projeto foi pensado para atender a pelo menos 150 crianças, com idades entre 7 e 12 anos. 

As crianças beneficiadas pela iniciativa terão um ano inteiro de acesso à iniciação à música, enquanto suas famílias passarão por momentos de sensibilização sobre cidadania e direitos da criança e do adolescente. Ao todo, são atendidas diretamente três comunidades de Lagoa do Itaenga, divididas em três turmas. 

Cada uma das turmas tem quatro horas semanais de aulas com os oficineiros, profissionais da educação musical responsáveis por conduzir a iniciação. Foto: Michele Manoel/itaú Social

Os instrumentos musicais foram adquiridos recentemente e começaram a chegar no início do mês de maio, para a alegria das crianças. “Percebemos que estão se sentindo acolhidas. A música é só um gancho. Pode ser que dali saia um maestro ou um instrumentista, mas o que queremos é que tenham acesso a algo novo, que ainda não tinham no município”, explica Érica.

Neste primeiro momento, os oficineiros estão fazendo uma espécie de triagem para entender a aptidão musical de cada aluno. “Na primeira semana, eles conheceram os instrumentos. Os instrutores tocaram e depois deixaram as crianças tocarem. Estão muito animadas.”

A música faz parte do currículo obrigatório da educação básica porque comprovadamente traz benefícios aos estudantes. Em artigo publicado na Revista Educação Pública, os pesquisadores em educação Francisco Junior e Licia Fernandes afirmam que a música “contribui para o desenvolvimento psicomotor, socioafetivo, cognitivo e linguístico, além de ser um recurso facilitador na aprendizagem”. A oferta da atividade musical no contraturno soluciona, ainda, outro desafio. De acordo com Érica, as famílias “falaram muito sobre a questão de os meninos e meninas ficarem o tempo todo mexendo no celular, ou mesmo sem fazer nada em casa”.

Durante as quatro horas semanais em que participam das atividades, as crianças têm direito a almoço e lanche. A situação de vulnerabilidade, às vezes, se evidencia em momentos como esse. “Tudo é como uma novidade. Na primeira semana, por exemplo, o almoço foi estrogonofe, arroz e batata palha. Alguns deles nem acreditaram que iriam comer aquilo.” No que depender do engajamento das crianças, o projeto já é um sucesso. A coordenadora conta que elas já queriam fazer uma apresentação musical no dia das mães, mesmo com poucas semanas de aulas. A solução foi ensaiar um coral em que os alunos cantam uma música e os oficineiros tocam os instrumentos.

Érica explica que, com a motivação das crianças, “há uma melhoria de qualidade no ensino e na aprendizagem, e isso se reflete no desempenho escolar”. Como o projeto ainda está em fase inicial de implementação, não é possível avaliar com dados esse impacto. Entretanto, as projeções são animadoras. “Temos recebido bons feedbacks das escolas e dos familiares. Alguns dizem que as crianças nem dormem no dia anterior, de tanta ansiedade. Preciso ficar falando para elas descansarem para ter energia”, brinca.

A iniciativa Minha Primeira Opção — Educação: Instrumento que Transforma atenderá os estudantes até o final de 2023. Ao longo do ano, estão previstas apresentações em datas como o dia dos pais, o dia da Independência e o Natal. Após o encerramento do projeto, todos os instrumentos musicais serão doados às três escolas participantes. “Isso amplia o repertório de ações para que a própria instituição de ensino dê continuidade às atividades educativas.”

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