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Hoje na escola

Precisamos trazer para a sala de aula tudo o que os indígenas representam

Educadora do Rio de Janeiro pretende ampliar referências literárias sobre os povos originários nas escolas com as aprendizagens do curso Jenipapos — Literatura de Autoria Indígena


Professora Verônica de Oliveira Amancio: “Penso em desenvolver uma feira indígena com base nos conteúdos do curso”. Foto: Arquivo pessoal

Por Marcos Furtado, Rede Galápagos, Rio de Janeiro
Depoimento de Verônica de Oliveira Amancio, professora de biologia com 12 especializações (em áreas como neuropsicopedagogia clínica, docência em ensino superior e matemática), estudante de letras — e cursista do Polo

As pessoas às vezes sabem muito pouco sobre o lugar em que nasceram. Eu moro na cidade de Mesquita, no Rio de Janeiro. Aqui tem o bairro de Jacutinga, nome dado em homenagem ao povo originário que habitava a região quando os colonizadores chegaram, mas os moradores não têm esse conhecimento. Há uma enorme falta de materiais didáticos e de acesso às histórias e culturas indígenas. Quando comecei o curso Jenipapos — Literatura de Autoria Indígena, disponível no Polo, o ambiente de formação do Itaú Social, percebi que essa seria uma oportunidade de ajudar na diminuição da ausência de referências literárias sobre os povos originários.

No decorrer do curso, vários autores descendentes ou nativos dos indígenas dão suas perspectivas sobre a literatura do seu povo. Particularmente, gostei muito dos depoimentos em vídeo. Todos os conteúdos passavam mensagens, especialmente, de respeito ao patrimônio ambiental que os povos originários protegem. Cada módulo tem informações de onde encontrar os materiais didáticos das temáticas ensinadas. A partir dessa metodologia, criei bases a fim de compartilhar em sala de aula a cultura dos primeiros habitantes do Brasil.

Penso em desenvolver uma feira indígena levando em conta os conteúdos do curso. Cada depoimento dos autores de literatura dos primeiros habitantes do Brasil possibilita a separação de tópicos temáticos para que os alunos, divididos em grupos, pesquisem e façam apresentações. Dá para fazer programas focados nos povos originários com base em literatura, cultura, alimentação e vestimenta. O mais legal é que os alunos acabam trazendo novos conhecimentos para os professores. Como atualmente estou cursando a faculdade de letras, pretendo apresentar projetos nas aulas de graduação com base em tudo o que aprendi no curso. As professoras adoram quando chegamos com novidades da literatura de autoria indígena. Tenho pesquisado os livros que não conhecia a partir das anotações que fiz durante os módulos para compartilhar com meus colegas e alunos. 

O conteúdo me chamou a atenção justamente porque aqui, no Rio, o assunto não é tão abordado nos livros e nas escolas. As pessoas não têm essa noção de que os descendentes dos primeiros habitantes do país também fazem faculdade. Eles só enxergam os povos originários pelados na floresta. Precisamos trazer para a sala de aula tudo o que os indígenas realmente representam. O material que nós, professores, recebemos nas escolas muitas vezes não condiz com a realidade do local onde trabalhamos. Esse contexto dificulta o entendimento das crianças porque elas estão lidando com algo que nunca viram. Não adianta falar que os indígenas devem ter direitos iguais, se eles (alunos) não têm referências sobre a cultura dos povos originários.

Para mim, o curso veio somar-se a uma experiência que marca minha formação de educadora. Em 2018, comecei a atuar no programa Mais Educação na Escola Municipal Menino de Deus, em Nova Iguaçu, também no estado do Rio de Janeiro. Lá, eu iniciei o trabalho com a temática indígena em sala de aula. O objetivo inicial era oferecer reforço escolar para estudantes de 8 a 14 anos de idade que ficassem abaixo da média, mas, como esse grupo de alunos não sabia ler e escrever, trabalhamos o letramento focado na interpretação de textos. Para ensiná-los de uma forma mais criativa, montamos maquetes com temas relacionados às ciências biológicas — uma das minhas formações. Entre uma atividade e outra, trouxe para os meus alunos assuntos relacionados aos povos originários. As lições não seguiam a forma como habitualmente é ensinada nos livros, com estereótipos e generalizações. Pelo contrário, apliquei o conhecimento que eles precisam ter para desenvolver consciência sobre a história e cultura dos primeiros habitantes do nosso país.

O tempo todo reciclamos folhas para produzir cartazes. Eu trazia caixa, papelão e garrafa. Todo o meu trabalho na escola foi utilizando material reciclável. O principal objetivo era ensinar a importância das ações dos povos originários no meio ambiente. Por ser de origem indígena, eu tenho essa cultura desde criança. Mesmo com o professor sabendo que a realidade indígena é diferente dos conteúdos habitualmente incluídos nos livros didáticos, essa ausência no material educativo focado nos povos originários reduz a presença do tema nas dinâmicas com os alunos, especialmente de escolas públicas e regiões de vulnerabilidade econômica. 

Gostei tanto do Polo que me inscrevi em mais cinco cursos: Flexibilização Curricular; Milton Santos: Cidadão do Mundo e Geógrafo das Quebradas; Acolhimento e Clima Escolar; Alfabetização na Sala de Aula; e Monitoramento e Avaliação: a Prática do BNDES em Educação. Nos últimos dois anos, fiquei afastada das salas de aula, pois fraturei uma perna. Cheguei a usar cadeira de rodas, mas agora estou fazendo concurso público para voltar a dar aulas. Quero compartilhar com os meus futuros alunos tudo o que aprendi. Em especial, os livros infantis recomendados no curso, como Um dia na aldeia, de Daniel Munduruku; Tem tupi na oca em quase tudo o que se toca, de Walther Moreira Santos; e Descobrindo o Xingu, de Marco Antonio Hailer.

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