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Impacto para a vida toda

Grupo de voluntários promove atividades lúdicas e educativas com crianças há mais de dez anos, no Recife (PE)


Desde 2012 Genes Cézar participa de ações voluntárias, voltadas principalmente ao público infantil, no Recife: “As atividades com crianças são sempre emocionantes e surpreendentes”. Foto: Arquivo pessoal

Por Wallace Cardozo, Rede Galápagos, Salvador
Depoimento de Genes Cezar, funcionário do banco e voluntário no Comitê Mobiliza Itaú Recife

Meu avô foi um homem da lavoura. Ainda pequeno, eu saía junto com o filho dele, meu tio, para vender as verduras que eles colhiam em Camaragibe, na Região Metropolitana do Recife. Mesmo com uma vida simples e pouco ligada à tecnologia, meu avô protagonizou duas histórias que envolvem digitação e marcaram para sempre minha vida. A primeira delas foi logo quando nasci. Ele queria que o meu nome fosse Gênesis, como na Bíblia. Por algum motivo, digitaram “Genes” no cartório, e assim ficou. Quando soube, ele foi lá, argumentou, negociou, até subiu o tom de voz, mas não adiantou.

No segundo episódio, eu já não era mais uma criança. A contragosto de algumas pessoas próximas, meu avô pagou para mim um curso de datilografia e disse que acreditava que eu iria vencer por meio da educação. Estava certo. Hoje, aos 47 anos, eu me considero um homem bem-sucedido. Sou a primeira pessoa de minha família a ter um diploma de ensino superior. Sou casado, pai de Pedro Benjamim, e realizado com minha atuação profissional como gerente de relacionamento no Banco Itaú.

Foi no trabalho que, em 2012, participei de um treinamento para mediação de leitura. Fiquei apaixonado pelo que aprendi e feliz por finalmente encontrar uma forma de ajudar outras pessoas, uma vontade antiga. Desde então, faço parte do Comitê Mobiliza Itaú, aqui no Recife. Atuamos principalmente com crianças, por meio de ações de leitura. A educação funcionou comigo e acredito que a literatura pode fazer bem a elas. Com a popularização do uso do celular, os livros estão ficando um pouco de lado, mesmo em lares com crianças. Tentamos resgatar o interesse pela leitura com uma estratégia muito simples. Sempre que chegamos, mostramos os livros e pedimos que elas mesmas escolham qual história vamos ler. Pouco tempo depois já não conseguimos terminar um conto sem que elas já nos peçam para ouvir outra assim que esta acabar.

As atividades com crianças são sempre emocionantes e surpreendentes. Lembro da primeira visita que fiz. Fomos ao Lar do Neném, um local que acolhe crianças em vulnerabilidade até que o juizado tome uma decisão a respeito da guarda. Nesse dia, reparei em uma bastante agitada. Era muito difícil prender a atenção dela durante as atividades. Fui conversar com ela e passamos um bom tempo fazendo isso. Quando, finalmente, consegui lhe perguntar sobre o motivo de tanta inquietação, ela respondeu, triste, que sabia que iríamos embora e não voltaríamos mais. Aquilo me partiu o coração. Algum tempo depois, voltamos ao Lar do Neném, mas ela não estava mais lá. Fiquei sabendo que tinha ido morar com um tio e estava bem, o que me confortou.

Além da leitura, costumamos levar outras ações como aulas de música e escovação dentária. Acho gratificante cada sorriso dessas crianças. Valorizo muito isso porque é algo que eu não tive, já que passei minha infância trabalhando. Chegamos a essas crianças por meio de parceiros intermediários. Também é comum que os próprios lares e casas de acolhimento nos procurem para alguma atividade. Estamos à disposição para transformar vidas.

Não é fácil. Para mim, também não foi. Mas meu avô me ensinou a não me contentar apenas com o arroz e o feijão. Eu queria carne. E, quando consegui, passei a querer batata frita. E refrigerante, por favor. Sempre quis mais para mim, e hoje quero mais também para as outras pessoas. O voluntariado muda a vida de quem o pratica e de quem é beneficiado. Eu me sinto renovado e fortalecido a cada ação. Não há nada no mundo equivalente ao sentimento de gratidão que a nós é direcionado. Trabalhar com crianças é ainda mais especial porque, com uma atitude de dedicação, atenção e afeto, nós as impactamos para a vida toda. Obrigado, vô!

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