

Por Wallace Cardozo, Rede Galápagos, Salvador
Depoimento de Jessica Moura, funcionária do Itaú e voluntária no Comitê Mobiliza Itaú de Maceió
Fui a uma colorida loja de brinquedos e produtos voltados ao público infantil. Pretendia comprar bonecas. Não era a primeira vez que fazia isso; afinal, tenho uma filha de sete anos. Saí da loja com as sacolas e o coração cheios da esperança de ver sorrisos naquele dia. As bonecas foram compradas com recurso arrecadado numa vaquinha solidária, organizada pelos membros do Comitê de Voluntários de Maceió, do qual faço parte.
Somos oito voluntários. Todos fazemos um pouco de tudo, de carregar alimentos a planejar publicações para nossas redes sociais. Entrei no comitê em 2020, pouco antes do início da pandemia. Foi um período desafiador, mas conseguimos doações de alimentos e materiais de higiene, além de engajar profissionais de saúde voluntários, para quem mais necessitava.
No caminho rumo ao destino das bonecas, passei por algumas pessoas em situação de rua. Infelizmente, esse é um cenário comum nas grandes capitais. Sempre que podemos, realizamos ações de distribuição de alimentos e roupas para esse público, mas isso não resolve o problema. Essas pessoas precisam de atenção e de oportunidades. Mesmo assim, faço a minha parte como posso, sempre que dá.
Antes de integrar o comitê, eu fazia parte de um grupo de teatro de fantoches que visitava abrigos e hospitais. Talvez seja por isso que eu não tenho mais vergonha de me vestir de palhaça quando visitamos lares que acolhem crianças. Sempre notei em mim essa vontade de ajudar as pessoas por meio do trabalho voluntário. Agora, consigo chegar a pessoas e lugares que talvez eu não alcançasse antes. Aonde vou, falo do trabalho que realizamos no comitê.
Eu e as bonecas chegamos. Em outras visitas do comitê, sempre havia pedidos de bonecas. Quando entregamos, ouvimos mais de uma vez que aquele era o melhor presente já recebido na vida. Não houve quem não chorasse quando uma das presenteadas ergueu sua nova boneca como se fosse um troféu. Sempre que preciso pensar numa história marcante, lembro dessa nossa visita ao Lar das Idosas.
Além das bonecas, levamos fraldas, alimentos e atividades lúdicas, como música e contação de histórias, às senhoras acolhidas. Elas são muito vaidosas e eu tinha me comprometido a aprender a escovar os seus cabelos. Tive uma tarde de cabeleireira enquanto ouvia ótimas histórias. Às vezes, elas só precisam de alguém para escutá-las, pois se sentem sozinhas e gostam muito de conversar.
Nós nos empenhamos também na organização de uma ação para o dia das crianças. Fomos a uma casa que acolhe 30 crianças em situação de vulnerabilidade. Passamos uma tarde inteira lá com jogos, brinquedos e tudo a que elas têm direito. No trabalho voluntário, a recompensa emocional é muito mais valiosa do que qualquer dinheiro. Em verdade, sinto que estou fazendo um investimento do meu tempo dedicado, pois essas atividades fazem de mim uma pessoa melhor. Sempre que posso, levo a minha filha junto comigo para que ela entenda o que o amor ao próximo é capaz de construir. Faço questão de conversar com as pessoas ao meu redor e incentivá-las ao voluntariado. Em um momento, a ajuda é uma doação financeira. Em outro, a mão de obra, ou mesmo uma indicação.
Saí do Lar das Idosas renovada, naquele dia. Nunca me imaginei comprando bonecas para mulheres com o dobro da minha idade e muitas histórias para contar. Algumas delas não tiveram a oportunidade de brincar com bonecas na infância. Algumas delas nem sequer vivenciaram a infância. Nunca é tarde para brincar e sorrir. E foi ao brincarem e sorrirem que elas me fizeram voltar para casa chorando de emoção.
Saiba mais
- Curso Voluntariado e Sociedade: Conhecer para Transformar
- A Tia da Massinha
- Para “ousadiar” na educação