Está no ar o Relatório Nacional da Semana da Escuta das Adolescências nas Escolas, um documento inédito que reúne as vozes dos estudantes do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental. O objetivo é revelar as percepções dos alunos sobre a estrutura atual de ensino e as práticas que podem fortalecer a conexão da escola à vida cotidiana, valorizar as relações humanas e inspirar o futuro da educação.
ℹ️ Roteiros apoiam planos para tornar escolas mais acolhedoras às adolescências
A iniciativa reuniu depoimento de 2,3 milhões alunos durante a Semana da Escuta das Adolescências, realizada em maio de 2024. A mobilização engajou mais de 21 mil escolas, equivalente a cerca de 46% das instituições de ensino que oferecem os Anos Finais nas redes municipais, estaduais e distrital em todo o Brasil.
“Essa escuta massiva é um importante avanço na formulação de políticas educacionais, justamente por engajar aqueles que vivenciam essa experiência diretamente na escola: os adolescentes. É uma prática pouco comum, não só no Brasil, mas no mundo. Com suas percepções, agora reunidas e organizadas em um relatório de alcance nacional, esses estudantes fornecem a fundamentação para a primeira política pública nacional focada nos Anos Finais do Fundamental”, afirma Patricia Mota Guedes, superintendente do Itaú Social.
ℹ️ 64% dos gestores destacam que a escuta do aluno é um desafio para a rede de educação
O relatório é resultado de uma parceria do MEC (Ministério da Educação) com o Consed (Conselho Nacional de Secretários de Educação), Undime (União dos Dirigentes Municipais de Educação) e Itaú Social.
Confira os principais destaques do relatório:
Na dimensão “acolhimento e pertencimento”, 66% dos mais jovens se sentem acolhidos pela escola, contra 27% que veem a experiência como parcial e 7% que discordam. Já entre os mais velhos, apenas 54% se sentem amparados, 33% consideram “mais ou menos” e 13% discordam. Essa percepção é reforçada por dados adicionais: 75% dos estudantes dos 6º e 7º anos confiam em pelo menos um adulto na escola, mas apenas 58% se sentem verdadeiramente acolhidos por esses adultos. Entre os do 8º e 9º anos, o percentual de acolhimento cai para 45%.
Em relação a “relacionamento e socialização”, 65% dos alunos dos 6º e 7º anos concordam que a escola favorece amizades e interações sociais, com 29% considerando “mais ou menos” e 6% discordando. Para os do 8º e 9º anos, 55% concordam, 35% avaliam como “mais ou menos” e 10% discordam. O relatório destaca que oito em cada dez estudantes (84% nos 6º e 7º anos e 83% nos 8º e 9º anos) têm amigos com quem gostam de estar na escola. No entanto, apenas 39% dos mais novos e 26% dos mais velhos afirmam respeitar e valorizar os professores, indicando desafios na relação aluno-professor, especialmente entre os adolescentes mais velhos.
Os dados revelam que 48% dos estudantes mais novos e 38% dos mais velhos consideram que as disciplinas tradicionais ajudariam em seu desenvolvimento para a vida. No entanto, a análise destaca um equilíbrio com outras dimensões. A categoria “corpo e socioemocional”, que abrange temas como esportes, bem-estar, autoconhecimento, autocuidado e saúde mental, foi escolhida por 31% dos respondentes do 6º e 7º anos e por 29% dos do 8º e 9º anos.
Na mesma categoria, quatro em cada dez adolescentes, independentemente da idade, acreditam que esportes e bem-estar ocupam um lugar central em seu desenvolvimento, enquanto o interesse por arte e cultura é mais pronunciado entre os mais novos, com 30% contra 23%. Já os estudantes do 8º e 9º anos mostram maior preferência por conteúdos de autoconhecimento e saúde mental, registrando 28% contra 22%.
De acordo com o documento, os jovens valorizam abordagens que vão além das aulas teóricas convencionais. As atividades práticas lideram as preferências, com 37% dos estudantes dos 6º e 7º anos e 34% dos 8º e 9º anos destacando a importância de projetos “mão na massa”. Esse índice chega a 40% quando se considera, especificamente, aulas práticas e projetos, se equiparando à demanda por práticas esportivas – também citadas por cerca de quatro em cada dez adolescentes (41% nos mais novos e 39% nos mais velhos).
A categoria de ciências e tecnologia também se evidencia, com 34% dos respondentes dos 6º e 7º anos e 30% dos 8º e 9º anos valorizando iniciativas como o uso de mídias digitais e experimentos científicos. O interesse por tecnologia e mídias digitais reflete a afinidade digital dos jovens, com 38% dos mais novos e 36% dos mais velhos priorizando esses recursos, segundo o relatório.
Os dados mostram que os adolescentes valorizam diferentes iniciativas para melhorar a convivência escolar, mas algumas se destacam. Entre os estudantes do 6º e 7º anos, quase metade (46%) apontou jogos, competições e olimpíadas como principais para promover integração, enquanto nos 8º e 9º anos o índice é ainda maior (48%). O diálogo sobre temas sensíveis também tem relevância: 34% dos mais novos e 30% dos mais velhos destacaram atividades voltadas ao enfrentamento de bullying, racismo e outras violências. Já as ações ligadas à qualidade de vida e emoções aparecem com 24% nos 6º e 7º anos e 27% nos 8º e 9º anos.
No campo da segurança e melhoria dos espaços, há equilíbrio: 31% dos mais novos defendem garantir a segurança e o mesmo percentual pede melhorias nos espaços de convivência, enquanto entre os mais velhos os índices são de 34% e 29%, respectivamente. Em contrapartida, atividades que reúnem docentes, famílias e estudantes tiveram baixa adesão, sendo indicadas por apenas 18% dos alunos do 6º e 7º anos e 13% dos do 8º e 9º anos.
O relatório completo com mais informações está disponível no site do MEC.