Frequentemente, a trajetória da história africana recebe atenção nas salas de aula apenas durante o mês de novembro, motivado pelo Dia da Consciência Negra (20). Essa é uma das maiores críticas dos movimentos sociais e especialistas em educação. No entanto, preencher o calendário pedagógico com atividades que valorizem a cultura e a história negra ainda pode ser um desafio para muitos docentes e gestores escolares.
Para inspirar professores nessa tarefa, o acervo digital “Anansi – Observatório da Equidade Racial na Educação Básica” disponibiliza diversos livros e materiais pedagógicos gratuitos mostrando o passo a passo de como elaborar atividades sobre a cultura e a história africana para estudantes da Educação Básica.
ℹ️ Lei 10.639/03 completa 20 anos
Os conteúdos foram produzidos a partir de pesquisas apoiadas pelo Edital Equidade Racial na Educação Básica e realizadas pelo Itaú Social e Ceert (Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades), em parceria com o Instituto Unibanco, Fundação Tide Setubal e o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância). Foram 15 projetos selecionados, sendo a maioria coordenada por pesquisadoras negras.
Cada estudo resultou em um ou mais produtos, dentre os quais alguns se enquadram como guias para professores e demais educadores. Um deles é a coletânea “Educação para as relações étnicos-raciais na escola: por uma educação antirracista, inclusiva e multiétnica”.
O título reflete a experiência na escola do Quilombo Dona Juscelina, em Muricilândia (TO), ocorrida ao longo de 18 meses. A iniciativa dispõe de artigos e práticas pedagógicas que valorizam a cultura africana, reunindo conteúdo teórico e prático para auxiliar o docente no planejamento dessas atividades.
ℹ️ Conheça as pesquisas selecionadas pelo edital de Equidade Racial
“O material é muito significativo, principalmente na comunidade escolar, pois percebemos a ausência de conteúdos que possam subsidiar o trabalho do professor em sala de aula. Faltam instrumentos, materiais e métodos para a aplicação da educação e da cultura quilombola na escola”, diz Gerson Alves dos Santos, pesquisador responsável pelo projeto.
Outra fonte de informação que pode ser usada como inspiração para docentes é o livro “Prática Antirracistas em Escolas Municipais de Contagem-MG”. O título compila nove atividades pedagógicas bem-sucedidas aplicadas em sala de aula, sendo cada uma delas experimentadas em diferentes contextos educacionais. Todas as iniciativas apresentam detalhes sobre como realizar as atividades, os materiais utilizados, os objetivos e os resultados esperados.
Além da obra digital, o estudo também contou com depoimentos dos profissionais de educação envolvidos com o projeto. As entrevistas revelam os desafios na elaboração dessas atividades e o impacto positivo no cotidiano escolar. Os testemunhos podem ser acompanhados no documentário “Epistemologias antirracistas e Projetos Políticos Pedagógicos”.
Cursos para professores
O livro “A educação Escolar em Perspectiva Quilombola: Cursos de Formação de Professores” está disponível para docentes que têm interesse em realizar algum curso para contribuir com seu trabalho em sala de aula. O conteúdo foi organizado pelo projeto “Zumbi Dandara dos Palmares”, apoiado pelo Itaú Social por meio do Edital Equidade Racial na Educação Básica, e tem como proposta inspirar profissionais de ensino a aplicarem atividades que fortaleçam a educação quilombola.
ℹ️ Tecnologia Educacional apoia secretarias de Educação na promoção da equidade racial
A obra registra a experiência de três formações, sendo a primeira realizada presencialmente com os professores do município de Jacuizinho (RS), e as outras aplicadas virtualmente, com a participação de 161 professores, de 35 escolas e de 20 comunidades quilombolas de diferentes regiões do país.
Outro título digital que sintetiza um curso para docentes é a “Formação Continuada de Professores: Por uma Educação Matemática Antirracista”, que mostra a temática racial no contexto da matemática. O curso utiliza elementos da “Modelagem Matemática”, método que considera fenômenos naturais, culturais e de engenharias do território como pontos de partida na abordagem da disciplina.
“A matemática é marcada pelo alto índice de reprovação, especialmente de estudantes negros. No entanto, cabe perguntar se eles são estimulados a aprender a disciplina de maneira que se sintam protagonistas do processo de construção do conhecimento”, diz o professor Rogério Fernando Pires, um dos realizadores da pesquisa.
O conteúdo foi elaborado por meio do estudo “Etnomatemática, Modelagem Matemática e Formação de Professores: possibilidades de implementação da Lei 10.639/03 no Ensino de Matemática”, de Rogério e das pesquisadoras Cristiane Coppe de Oliveira e Viviane de Andrade Vieira Almeida.