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Redes municipais apontam adaptação dos alunos do 6º ano como importante desafio dos anos finais

Levantamento ouviu representantes de 60% das secretarias municipais de todo o Brasil. O baixo engajamento das famílias dos estudantes também é um ponto de atenção segundo a maioria dos entrevistados


Aula em escola municipal de Várzea Grande (MT): a pesquisa Percepções e Desafios dos Anos Finais do Ensino Fundamental nas redes municipais de ensino ouviu representantes de 3.329 redes municipais, que correspondem a 60% do total. Foto: Itaú Social

Por Wallace Cardozo, Rede Galápagos, Salvador (BA)

Imagine que está fazendo um curso com duração de dois anos. Na primeira metade, você teve dois professores com os quais se acostumou, pois fizeram parte da sua rotina ao longo de todo o primeiro ano. Agora, você está prestes a passar para a segunda etapa da formação e ficou sabendo que o número de docentes será multiplicado por cinco. A partir da primeira aula no ano seguinte, toda a sua rotina será alterada e a dinâmica na sala de aula será completamente diferente. É isso que acontece com os estudantes do ensino fundamental na passagem do 5º para o 6º ano.

Profissionais da educação relatam que esse é um momento desafiador para os alunos. No Brasil, 54,1% das redes municipais, responsáveis pela maior parte dos estudantes do ensino fundamental, não contam com uma equipe dedicada a apoiar a adaptação dos estudantes nessa transição. Os dados são da pesquisa Percepções e Desafios dos Anos Finais do Ensino Fundamental nas redes municipais de ensino, uma parceria entre Itaú Social e Undime (União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação), publicada neste ano.

O estudo ouviu representantes de 3.329 redes municipais, número que corresponde a 60% de todas as redes do Brasil. Juntas, aquelas que participaram da pesquisa são responsáveis por 64% das matrículas de anos finais na rede pública de todo o país. “A transição para o segundo ciclo do ensino fundamental é caracterizada por uma junção de mudanças que ocorrem com os estudantes. Merecem uma atenção especial de preparação e acolhimento, além de um planejamento pedagógico que precisa frequentemente ir além da equipe de uma única escola”, avalia a superintendente do Itaú Social, Patricia Mota Guedes. “Reconhecer o que é o processo da adolescência, a experiência de adolescentes, assim como as especificidades de cada indivíduo e contexto, é fundamental para que as políticas educacionais consigam concretizar escolas pensadas e feitas para e com os estudantes dos anos finais do ensino fundamental. Nesse sentido, esforços precisam elencar fatores de alavancagem nessa etapa, como gestão escolar especializada, reorganização das escolas, volume e adequação do trabalho docente, recomposição das aprendizagens, maior participação dos estudantes, relação família-escola, estratégias para os anos de transição e um currículo ampliado na perspectiva da educação integral”, avalia.

Os principais temas trazidos pelos dirigentes ouvidos pela pesquisa

O professor Manoel Junior atua com formação de docentes na Secretaria de Educação de Barcarena, no Pará. Durante a maior parte da carreira, deu aulas para turmas do ensino fundamental 2 e pôde observar os desafios da transição do 5º para o 6º anos. “Entendemos que tudo o que é novidade vai causar um impacto no estudante. O que podemos e tentamos fazer é amenizar esse impacto”, afirma. A rede de Barcarena aplica uma estratégia que visa facilitar a adaptação. Ao longo do ano letivo, docentes de língua portuguesa e de matemática promovem aulões a alunos do 5º ano. “É para que comecem a se acostumar com a ideia de ter um professor para cada disciplina”, explica Manoel.

Após mais de 15 anos em sala de aula, Manoel é capaz de apontar o que pode melhorar no cotidiano da educação pública. Exemplificou falando sobre a necessidade de investimento em formação continuada e sobre o engajamento dos docentes antes de mencionar uma atuação essencial nessa relação protagonizada por estudantes e professores, que deve ser feita pela família. “O aluno do ensino fundamental 1 geralmente conta com uma participação maior dos familiares. Com o passar dos anos, a família começa a atribuir uma independência ao aluno, como se o fato de ele estar crescendo anulasse a necessidade de acompanhamento do dia a dia na escola”, acredita.

Os resultados da pesquisa também apontaram para essa questão como um dos desafios dos anos finais. Aproximadamente 77% das redes ouvidas alegaram encontrar algum grau de dificuldade na implementação de estratégias de engajamento da relação com as famílias dos estudantes. De acordo com Manoel, “o aluno que tem o acompanhamento familiar tem um melhor aproveitamento. Por isso, é muito importante a participação da família na escola”. Entretanto, três em cada dez secretarias municipais realizam raramente ou somente às vezes ações para o fortalecimento da relação entre as famílias, a escola e a comunidade dos estudantes dos anos finais. Em 2021, o Ministério da Educação instituiu o Programa Educação e Família, que tem como objetivo promover a participação de mães, pais e responsáveis na vida escolar dos estudantes.

A pesquisa Percepções e Desafios dos Anos Finais do Ensino Fundamental nas redes municipais de ensino traz ainda vários outros destaques. Alguns deles:

  • Educação integral, modalidade em que 57,5% das redes declaram ter ações de expansão ou implantação;
  • Adesão e frequência dos profissionais da educação em relação às formações continuadas, consideradas pela maior parte das respondentes mais desafiadoras quando implementadas nos anos finais;
  • Saúde mental de estudantes e professores, apontada como um dos principais desafios por três em cada quatro redes participantes do estudo.

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