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Hoje na escola

Olhar afetuoso na educação de pessoas com deficiência

Educadora mineira utiliza conhecimentos adquiridos no curso Gestão inclusiva: pessoa com deficiência para identificar alunos com desenvolvimento atípico e orientar seus responsáveis


Professora Vívian Aparecida Ruela Silva: “Em alguns casos, o aluno com deficiência pode não conseguir o mesmo resultado da média da turma, mas é dentro do que ele pode e consegue oferecer”. Foto: Arquivo pessoal

Por Marcos Furtado, Rede Galápagos, Rio de Janeiro
Depoimento de Vívian Aparecida Ruela Silva, professora de língua portuguesa da rede estadual de Minas Gerais e do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais – Campus Muzambinho — e cursista do Polo

Sou professora há 16 anos. Nesse período, muitos alunos com deficiência passaram pelas turmas para as quais lecionei. Em um primeiro momento, confesso, tive dificuldades porque a graduação não me preparou para trabalhar de maneira eficaz a didática com estudantes atípicos. Geralmente, nós, professores, começamos a nos preparar para lidar com essa realidade somente em sala de aula. Toda capacitação com credibilidade voltada para a temática da educação de pessoas com deficiência é importante para o desenvolvimento de nosso trabalho como professores. Tanto é que, em maio de 2023, fiz o curso Gestão inclusiva: pessoa com deficiência.

Como o próprio nome sugere, ele é voltado para gestores em educação. Na época, eu trabalhava como coordenadora das professoras de inglês de Muzambinho, em Minas Gerais. Após a Secretaria de Educação do município sugerir a formação virtual, eu e mais alguns educadores da região nos inscrevemos. A plataforma tem um layout que facilita seu uso. Achei o curso muito bom, prático e objetivo, pois tem apenas um módulo. Essas características são essenciais porque nossa carga horária é muito ocupada com mais de uma escola e turma. Os conteúdos podem ser encontrados nos formatos de vídeo, áudio e em PDF (livros e artigos). A formação virtual tem um objetivo claro de preparar o gestor educacional para fazer o diagnóstico das dificuldades relacionadas aos alunos com desenvolvimento atípico. Os cursistas também encontram conhecimentos para oferecer soluções a fim de minimizar ou acabar com os problemas identificados. Por fim, a formação trabalha a capacidade de tirar essas alternativas do papel por meio de planos de ação.

Aprendi muitas lições ao longo do curso; em especial, destaco duas. A primeira é a necessidade de o educador ter um olhar mais atento. Essa percepção precisa ser afetuosa para ajudar na identificação de situações que até aquele momento ninguém enxergou. Com o apontamento de sua condição registrada em laudo médico, o estudante com deficiência será atendido conforme a legislação garante. O outro aprendizado é a prática da organização na docência com esse grupo de alunos. O professor tem que ser organizado para ler, compreender e ter acesso aos conhecimentos necessários a fim de oferecer um trabalho eficaz.

Trabalho na rede estadual, que não oferece uma equipe de psicólogos e de psicopedagogos. Portanto, mais do que nunca, tenho utilizado os conhecimentos adquiridos no curso com o objetivo de identificar os alunos com deficiência e comunicar a seus responsáveis. Além disso, oriento os pais a procurarem um atendimento médico adequado. Observo que às vezes há resistência por parte dos responsáveis em levar o estudante para receber o diagnóstico. Muitas vezes desconhecem direitos garantidos com o diagnóstico, como, por exemplo, o acesso a uma sala de recursos multifuncionais com professores especializados. Enfatizo que a medida não é para rotular esses estudantes. Na verdade, o objetivo é oferecer oportunidades de melhor aprendizado. Em muitos casos, alunos com deficiência estudam em uma sala com média de 35 colegas e contam com professores que dão somente duas ou três aulas na mesma turma. Essa falta de acompanhamento diário dificulta o desenvolvimento dos alunos com deficiência. Muitos pais de alunos da rede pública dependem exclusivamente do SUS. Quando vão procurar atendimento para seus filhos, precisam ficar na lista de espera, que, geralmente, dura seis meses. O tempo pode ser ainda maior quando o aluno precisa passar por psicólogo, psiquiatra e neurologista. Essa é uma realidade muito cruel com a qual convivemos nas escolas. Também compartilho as aprendizagens da formação com meus colegas educadores em conselhos de classe a fim de multiplicar as práticas que desenvolvo com outras turmas.

Já dei aula para um aluno disléxico que tinha dificuldade com leitura e organização espacial. Mesmo com essa condição, ele sempre foi muito organizado e contou com uma excelente assistência da família. Depois de sair da escola, fez um curso técnico em agropecuária e graduação em agronomia. Adquiri muita experiência dando aula para esse aluno. Percebi, por exemplo, que deveria usar esmalte escuro porque ele visualizava as matérias com mais facilidade na hora em que eu direcionava as mãos para o quadro da sala ou no seu caderno. A folha dele tinha que ser amarela e com todas as letras em maiúsculas. Ele lia perfeitamente e com fluência, mas tinha que usar uma régua sob cada linha. Detalhes simples que faziam toda a diferença. Por isso, reitero que é necessário ter um olhar mais humanizado em sala de aula. E entender que aquele estudante tem o direito de estar ali e receber um atendimento que leve em conta sua condição. Em alguns casos, o aluno com deficiência pode não conseguir o mesmo resultado da média da turma. O importante é que se reconheça e se respeite o que esteja dentro de suas possibilidades. Essa é uma das principais premissas do curso. 

Além dessa formação virtual, utilizo recursos e sugestões apresentados pelo programa Leia com uma criança. Recomendo os títulos para os meus alunos porque é uma leitura que pode ser baixada facilmente na internet de forma gratuita. Em sala de aula, leio para eles a história que acesso pelo meu celular. Outras vezes, coloco no projetor para  que acompanhem, pois, como os livros são interativos, é importante que eles reajam às figuras. Costumo ler livros dessa coleção também para minha filha de oito anos antes de colocá-la para dormir. O sétimo gato é a sua história predileta. 

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