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Hoje na escola

Uma questão de estudo contínuo

Professora do litoral paulista relata como percurso formativo em alfabetização contribuiu com reflexões e experiências que fortalecem sua prática pedagógica


A professora Susana Leite: “Essa formação me auxiliou a olhar, cada vez mais, para meus alunos como sujeitos ativos do processo de aprendizagem”. Foto: Arquivo pessoal

Por Paula Salas, Rede Galápagos, São Paulo
Depoimento de Susana Félix Paz Correa Leite, pedagoga e psicopedagoga, professora de anos iniciais do Ensino Fundamental nos municípios de Bertioga e Guarujá (SP), formadora de educadores — e cursista do Polo

Como é prazeroso ver as crianças aprendendo a ler e a escrever. Fiquei emocionada com a atividade de escrita sobre bumba meu boi presente em um dos cursos que compõem o percurso Alfabetização na sala de aula. E com as boas perguntas que a professora Miruna Kayano fez para validar as escritas das crianças e garantir conversas produtivas entre elas. Foi algo singular.

Conheci o percurso por meio de uma indicação. O interesse inicial veio do meu desejo constante de investir em aperfeiçoamento profissional. Nos últimos anos, venho me aprofundando nos estudos da didática de alfabetização. Ao procurar um curso, analiso a concepção na qual ele está embasado e no currículo dos formadores. Meu interesse foi despertado justamente por ter sido produzido em parceria com a comunidade educativa Cedac, que é referência na concepção de alfabetização que defendo. 

Os conteúdos são de muita qualidade e contribuem para a nossa ação na sala de aula; os materiais ficam disponíveis para continuar a consultar e refletir sobre eles. A formação é dividida em cinco cursos, cada um com duração de oito horas. Eu me organizei para fazer um pouco por dia e estabeleci um ritmo de estudo de forma que houvesse aprendizagem efetiva. 

Nos cinco cursos os temas abordados são: concepção de alfabetização, situação didática de leitura por meio do professor, situação didática de leitura pelo estudante, situação didática de escrita por meio do professor e situação didática de escrita pelo estudante. 

Todos são estruturados com uma reflexão inicial, quando é feita uma contextualização do tema e pontos de aproximação com a BNCC (Base Nacional Comum Curricular); questões disparadoras, em que são colocadas perguntas comuns de professores; reflexões sobre a prática; ampliação conceitual, com ideias e reflexões que contribuem significativamente para a nossa prática; planejamento da prática, em que as formadoras apresentam formas de planejar dentro do tema explorado; sugestões de como seguir estudando; e, por fim, o cursista faz um quiz para avaliar as aprendizagens. 

A formadora traz subsídios para compreender por que a prática pedagógica deve considerar os saberes dos educandos e a importância de se estar pautado nos pressupostos da perspectiva psicogenética de alfabetização. Desperta reflexões que ajudam o professor a pensar sobre o comportamento de determinados alunos. Muitas crianças passaram por experiências negativas com a escrita e a leitura, e o professor precisa saber lidar com elas de uma forma que sintam que podem se arriscar sem medo de serem punidas. Por isso, é de fundamental importância planejar as propostas de atividades em sala de aula a partir do conhecimento dos estudantes . 

Um ponto que destaco é o tópico das reflexões sobre a prática, que trazem gravações de uma sala de aula do ateliescola Acaia, escola experimental que atende em sua maioria crianças e adolescentes de comunidades em situação de vulnerabilidade social próximas à Ceagesp, em São Paulo. Esse trabalho feito com estudantes que vivem em contexto semelhante ao encontrado na maioria das escolas públicas auxilia o professor a visualizar com mais clareza a atuação docente no desenvolvimento das atividades.

As formadoras nos auxiliam a melhorar nossa prática em sala de aula e a ter um olhar questionador sobre o fazer pedagógico. Retomei reflexões do que já trabalhei em sala de aula, adquiri novos olhares e conheci outras formas de encaminhar situações didáticas em meu ambiente de trabalho, com reflexos positivos nas formações que realizo com outros professores. Levo propostas e reflexões apresentadas no percurso. A formação me auxiliou a olhar, cada vez mais, para meus alunos como sujeitos ativos desse processo de aprendizagem.

Formação voltada à recuperação das aprendizagens

Pesquisas e avaliações diagnósticas realizadas em diferentes redes de ensino evidenciaram aquilo que os educadores já percebiam na prática: os duros impactos que a pandemia de Covid-19 deixou no processo de alfabetização das crianças. Para citar apenas um dado que ilustra esse quadro preocupante, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), entre 2019 e 2021, houve um aumento de 66,3% no número de crianças de seis e sete anos de idade que, segundo seus responsáveis, não sabiam ler e escrever. O número passou de 1,4 milhão em 2019 para 2,4 milhões em 2021.

“Desenvolvemos os cursos para que pudessem apoiar os profissionais, quanto antes, com a recuperação das aprendizagens”, explica Camila Fattori, coordenadora pedagógica da Comunidade Educativa Cedac, responsável pela construção do percurso de alfabetização. A construção da trilha e dos aspectos abordados parte de pesquisas e vivências reais da rotina na alfabetização. “Nossa intenção era que o curso contribuísse para a prática pedagógica dos professores, que chegasse de fato à sala de aula”, explica Érica de Faria, coordenadora da Cedac. “Planejamos um percurso que ajudasse não só a ampliação conceitual, como também consideramos as principais condições didáticas para cada situação de leitura e escrita”, complementa. 

Quando se pensa em contribuições na área de aquisição do sistema alfabético, é impossível não mencionar Magda Soares (1932-2023), uma das maiores referências brasileiras nessa área e que faleceu no dia 1º de janeiro deste ano. “Não há como ser um bom professor sem estudar. Sei o quanto a formação continuada faz a diferença no meu cotidiano com as crianças. Magda Soares era uma pesquisadora incansável, foi e sempre será uma inspiração para mim”, reflete Susana. 

“A professora e pesquisadora sempre esteve na luta por melhores condições de ensino e aprendizagem para os estudantes”, observa Érica. “Ela ampliou o conceito de alfabetização para além da apropriação do sistema de escrita, envolvendo nesse processo de aprendizagem as práticas de leitura e de produção de texto.” Essa perspectiva ampla, que considera o letramento e o uso da linguagem em situações reais, está presente na formação encontrada no Polo. 

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