

Por Anderson Santana, Rede Galápagos, Recife (PE)
O Projeto de Tutoria na Escola Municipal de Ensino Infantil e Ensino Fundamental Professor Joaquim da Silveira Santos, em São Roque, na região metropolitana da capital paulista, busca auxiliar estudantes do ciclo 2, entre 11 e 15 anos, que enfrentam desafios acadêmicos e comportamentais, fornecendo suporte individualizado. A iniciativa trouxe resultados notáveis no terceiro bimestre do ano letivo de 2023.
A escola fica próxima dos limites dos municípios de Vargem Grande Paulista e São Roque. O projeto tornou-se um farol de esperança para cerca de 30 estudantes, do 6º e do 7º ano. Coordenado por Júlia Kruszczynski Bergmann e com o apoio da professora Mariana Fernandes, do Ensina Brasil, foi meticulosamente concebido para oferecer suporte personalizado aos alunos.
“O público desse projeto são os estudantes que apresentam defasagem de aprendizagem, que muitas vezes também se reflete em questões (in)disciplinares. Alguns dos alunos desse grupo não se alfabetizaram na idade certa, e não é raro que suas famílias tenham poucos estudos escolares”, relata Júlia. Ela complementa informando que muitos dos estudantes vivem um cotidiano rural ou são filhos de pessoas que tomam conta de chácaras na região, e outros ainda vivem em bairros que começam a ter contornos próximos do que se entende social e economicamente por “periférico”.
A professora Mariana explica que o objetivo é oferecer acompanhamento semanal, para que os estudantes possam desenvolver autopercepção sobre o comportamento durante as aulas, favorecendo a construção de atitudes necessárias para organização, resiliência e confiança. “Entendemos que a conquista desses comportamentos é fundamental tanto para o alcance da autonomia como para a aprendizagem de conteúdos historicamente produzidos pela sociedade.”


No início das atividades, estudantes foram encorajados a registrar diariamente seu desempenho em sala de aula. Perguntas avaliavam desde a posse do material necessário até a concentração durante as explicações. Depois as estratégias foram aprimoradas, com foco na objetividade e na reflexão sobre o próprio progresso. Uma vez por semana a professora Mariana conversava com os estudantes e as demais salas ficavam com a coordenadora.
Para o bimestre seguinte a coordenadora redesenhou o caderno da tutoria, tornando o preenchimento mais objetivo e deixando um espaço direcionado para a produção textual a partir de assuntos que chamaram a atenção dos participantes.
Com a iniciativa, os resultados obtidos foram notáveis e evidenciaram a eficácia da tutoria. Ao final do terceiro bimestre, os estudantes que antes enfrentavam dificuldades em cinco disciplinas ou mais reduziram esse número para apenas duas. Em alguns casos, observou-se um avanço global, com notas superiores a 7,0. Nenhum estudante permaneceu estagnado ou retrocedeu em seu desempenho.
Daniela Canno, da disciplina de ciências, detalha que os alunos tutorados apresentaram resultados positivos nas aulas, “principalmente no quesito organização e responsabilidade. Eu espero que o projeto continue, pois estamos colhendo os primeiros frutos positivos dele”, enfatiza.
Para Mariana, esse primeiro resultado positivo é mais do que motivo de celebração; é um impulso para pensar em estratégias que consolidam o projeto entre toda a equipe docente. “Além disso, observamos a importância de olhar o caderno e apoiar o/a estudante em ações aparentemente banais como: organizar a distribuição das matérias, colocar data no início de cada aula e fazer a separação clara entre uma aula e outra, evitar páginas em branco e seguir desenvolvendo a escrita como um registro possível de ser consultado posteriormente”, explica.
A coordenadora relata que a importância de olhar para cada estudante tem muita potência, no sentido de humanizar a relação. “Muitos dos estudantes com defasagem deixaram em algum momento de acreditar em si. E, não raro, a escola acaba por reforçar esse estigma de incapacidade, ao contar com poucos recursos para superação de defasagem. Construir essa aproximação é dar condição para o estudante perceber-se como alguém capaz de avaliar o próprio aprendizado, perceber que pode melhorar e aprender e, assim, superar dificuldades”, conclui Júlia.
Saiba mais
- “A avaliação é como um espelho que reflete a realidade”
- Paulo Freire — a defesa da autonomia, do espírito crítico e do diálogo
- Jean Piaget e a construção do conhecimento