

Por Wallace Cardozo, Rede Galápagos, Salvador
Depoimento de Estefânia dos Santos, professora da rede municipal de Umbuzeiro (PB), licenciada em letras com espanhol — e cursista do Polo
Faz algum tempo que, todos os meses, eu e meus colegas concluímos formações do Polo. O incentivo vem da Secretaria de Educação de Umbuzeiro, na Paraíba, município em que nasci, cresci, moro e trabalho. Precisamos comprovar pelo menos dez horas mensais de atividades extracurriculares. Venho da zona rural, onde, ainda hoje, é comum escutar frases como “filho de pobre não faz faculdade” e “minha caneta foi a enxada e meu caderno, o roçado”.
Em 2014, quando entrei na faculdade, havia uma única pessoa com ensino superior completo na minha comunidade, de mais ou menos 600 habitantes. Contando comigo, acredito que hoje sejamos 5 ou 6. Assumi a missão pessoal de ser uma agente pela garantia dos direitos das crianças, principalmente o direito à educação e o acesso às oportunidades. Elas não pensam da mesma forma, tampouco têm os mesmos sonhos, gostos e preferências. E só seremos capazes de identificar as suas habilidades se oferecermos a elas uma aprendizagem diversa.
Os estudantes têm direito a aulas mais dinâmicas, que envolvem tecnologias e plataformas digitais. Precisam de aulas de esportes, artes e linguagens. Sou formada em letras com espanhol, mas atuo com o idioma há pouco mais de um ano. Antes disso, trabalhei como pedagoga, mesmo sem a formação específica, em uma escola de zona rural. Conheci, por outro ponto de vista, uma realidade com a qual já tinha familiaridade. E isso aumentou minha vontade de fazer a diferença na vida daquelas crianças.
Umbuzeiro é uma cidade pequena, próxima a Campina Grande. Foi lá que fiz faculdade. Saía de casa rumo ao ponto de ônibus às 4h30 da manhã, pontual e diariamente. Voltando à minha terra natal, ela é conhecida por ser também terra natal de importantes nomes, como Assis Chateaubriand, Epitácio Pessoa e João Pessoa. Aquele mesmo que dá nome à capital do estado, cerca de 140 quilômetros distante daqui.
Acredito ser nossa, na condição de pessoas educadoras, a responsabilidade de incentivar as crianças a buscar uma realidade melhor. Tenho ciência de que fui uma exceção. Sou filha de um agricultor e uma merendeira. Por causa do trabalho, minha mãe tinha as chaves da escola, que ficava perto da casa em que vivíamos. Não dá para chamar de biblioteca, mas o trabalho de minha mãe tinha um quartinho com prateleiras em que os livros ficavam armazenados. Foi nesse cômodo que passei, sozinha, boa parte da minha infância me tornando uma pessoa cada vez mais curiosa, graças aos livros.
Nos últimos meses, busquei formações que contribuíssem para o meu propósito. No Polo, fiz cursos como Busca ativa escolar: garantia integral de direitos de crianças e adolescentes, Fortalecimento da relação escola, família e comunidade, As múltiplas formas de aprender das crianças, Gestão inclusiva: pessoa com deficiência e Gestão da educação para a equidade racial. Ao todo, foram seis. A diferença no dia a dia de trabalho, no nível de compreensão e na abordagem na sala de aula é notória para meus colegas e para mim. E, principalmente, percebemos o maior envolvimento das crianças ao se sentirem ouvidas, valorizadas e integradas. Esse é o principal indicador de sucesso.
Em Umbuzeiro, acreditamos muito na educação e temos o enorme desafio de modificar o senso comum. A rede está em transição para a educação em tempo integral, como tentativa de minimizar os impactos negativos da pandemia. Os estudantes têm aulas de inglês e espanhol, obrigatórias no ensino fundamental 2, graças a uma lei municipal. Os docentes e gestores estão constantemente se atualizando por meio de formações, como as do Polo. As perspectivas são de um futuro melhor, e eu me sinto feliz em ajudar a construí-lo. Os filhos e filhas de pobre são quem mais precisa entrar na faculdade.