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Estudo apresenta desafios e recomendações para a melhoria da qualidade da gestão escolar

Levantamento realizado pelo Itaú Social e D3e considerou dados do Inep de 2021


O novo levantamento do Itaú Social e da  D³e (Dados para um Debate Democrático na Educação) identifica os desafios da gestão escolar durante a pandemia da Covid-19, as estratégias adotadas nesse período e as recomendações para melhoria da educação. O estudo “Relatório de Política Educacional Gestão Escolar em Tempos de Crise – O Que a Pandemia Pode Nos Ensinar Para o Futuro?” ouviu diretores escolares de dez municípios.

Entre os desafios apontados estão o aprofundamento das desigualdades, problemas relacionados ao acesso e ao uso das tecnologias e a rotatividade de gestores escolares. Já as recomendações destacam a necessidade de fortalecer a administração escolar e permanência de diretores por meio de atribuição de critérios técnicos para a seleção.

ℹ️ Volume de trabalho do professor é o assunto de seminário

“O estudo reforça o papel fundamental que os gestores e demais membros das comunidades escolares têm para fortalecer a educação do nosso país de forma mais sistêmica e perene,  por meio do envolvimento entre escola e famílias, da colaboração entre secretarias e da estruturação de planos de desenvolvimento para os gestores escolares”, destaca a superintendente do Itaú Social, Patricia Mota Guedes. “Além disso, o relatório foi crucial para que os diretores compreendessem  as dificuldades e a realidade dos alunos, principalmente daqueles em situação de vulnerabilidade social, e oferecessem alternativas para manter a rotina de aprendizagem. O estudo apresenta um compilado com informações imprescindíveis  e com potencial de trazer reflexões que podem mudar o olhar de toda a comunidade escolar, a partir das experiências e desafios impostos pela pandemia”, acrescenta.

Confira os resultados da pesquisa

Desafios enfrentados pelos diretores
1. Sobrecarga de trabalho e saúde mental: o Whatsapp ampliou as jornadas de trabalho e os gestores passaram a ser acionados a todo momento. Sobrecarregados e muitas vezes com baixo apoio do Estado, foram frequentes relatos de piora da saúde mental.
2. Rotatividade: muitos diretores assumiram o cargo na pandemia, sem nenhum tipo de formação, o que gerou custo adicional de aprendizagem com a troca e com a gestão da crise.
3. Resistência ao ensino remoto: no início do isolamento, docentes e estudantes tiveram dificuldade para lidar com a tecnologia, tanto pelo acesso à internet e equipamentos quanto pela falta de conhecimento das ferramentas.
4. Variações nos apoios dos governos: na ausência de coordenação do governo federal, variou o apoio oferecido pelas secretarias de Educação municipais e estaduais. Em muitos casos, as responsabilidades recaíram sobre diretores e professores.
5. Demora na tomada de decisões: na expectativa de que a pandemia fosse passageira, muitos municípios demoraram a tomar decisões estruturadas, transcorrendo-se meses até que as aulas fossem oferecidas em formato remoto. Várias estratégias foram desenhadas de maneira improvisada.
6. Tecnologia: o acesso à internet e a equipamentos foi um dos fatores que determinou as experiências de ensino e aprendizagem. Com isso, evidenciou-se uma desigualdade já existente no País, mas que recebia pouca atenção no período pré-pandemia.
7. Ausência de infraestrutura nas escolas: na retomada presencial, diretores tiveram de enfrentar desafios antigos de infraestrutura das escolas, evidenciados pela pandemia, como ausência de computadores, pias e acesso à água.
8. Ampliação das desigualdades: estudantes mais vulneráveis de comunidades rurais, quilombolas e com deficiência foram os mais prejudicados. Além da conectividade, houve dificuldade de deslocamento até as escolas para recebimento das atividades impressas e de acompanhamento das aulas em casa.


Estratégias colocadas em prática
1. Atividades impressas: entregues aos estudantes nas escolas ou diretamente no endereço residencial. Em alguns casos, foram complementadas por atividades on-line, com vídeos no Whatsapp ou aulas em plataformas, como o Google Meet.
2. Comunicação: os grupos de Whatsapp foram a principal estratégia de comunicação com a comunidade escolar, e muitos diretores participaram de todos os grupos criados. Uma escola nomeou o seu grupo de “Perdidos na Noite”, traduzindo o sentimento de desamparo do início da pandemia.
3. Foco prioritário da gestão escolar: durante o isolamento, o foco dos diretores foi manter o vínculo com estudantes e familiares, assegurando que as atividades fossem acompanhadas pelo maior número de alunos possível.
4. Nova relação família-escola e aproximação da comunidade escolar: grupos de Whatsapp, visitas domiciliares e contato na retirada dos materiais aproximaram diretores, estudantes e suas famílias, gerando mais empatia. Os diretores conheceram melhor os estudantes e seu contexto. As famílias passaram a valorizar professores e escolas.
5. Gestão democrática: frente a desafios muito complexos, as decisões foram tomadas de maneira mais participativa, envolvendo os docentes, o grupo gestor e a comunidade escolar, de modo a construir consensos e engajamento coletivo nas decisões.
6. Redes e intersetorialidade: o enfrentamento da pandemia dependeu da articulação em rede de atores do setor público, do setor privado, do terceiro setor e das universidades para atender às necessidades dos estudantes de forma integral.


Recomendações
1. Humanizar as relações entre família e escola: manter as estratégias de comunicação, especialmente por meio de grupos de Whatsapp, e atender as famílias individualmente, seja por meio de visitas domiciliares (quando possível) ou em horários individuais de atendimento na escola para todos.
2. Desnaturalizar injustiças: estabelecer e monitorar padrão mínimo de infraestrutura a ser alcançado por todas as escolas e pactuado entre os diferentes níveis de governo, que inclua quesitos relativos à conectividade e tecnologia; alocar recursos a partir de discriminação positiva e inserir conteúdo sobre equidade na preparação de futuros líderes escolares.
3. Definir com clareza o papel do Estado e dos gestores escolares: na discussão sobre o Sistema Nacional de Educação, definir competências e responsabilidades de cada ente federativo e da gestão escolar, apontando como serão avaliados, monitorados e cobrados pelos órgãos de controle.
4. Repensar as políticas públicas voltadas aos gestores escolares: desenvolver um marco para a gestão escolar, com definições das dimensões centrais da função; utilizar critérios técnicos para a seleção dos diretores escolares; estabelecer tempo mínimo de permanência no cargo; oferecer um programa de desenvolvimento aos diretores escolares, que pense na formação de maneira integrada (inicial, indução e continuada) criar e institucionalizar espaços de trocas de experiências entre pares.
5. Valorizar colaboração, intersetorialidade e parcerias com outros setores: expandir atuação intersetorial entre as diferentes secretarias; ampliar parcerias com diferentes setores, garantindo uma rede de apoio para escolas e estudantes e assegurar  o trabalho colaborativo entre os diferentes níveis de governo.
6. Focar na aprendizagem dos estudantes: dar ênfase na retomada das aprendizagens de forma ampla, com diferentes estratégias e atentando para diferentes necessidades dos estudantes nesse período, além de fortalecer a atuação em rede com outras organizações/equipamentos, garantindo apoio integral aos estudantes, sem sobrecarregar a escola com questões que fogem à sua alçada.
7. Implementar políticas de cuidado: criar espaços de acolhimentos para a comunidade escolar, colocando o bem-estar e a saúde mental do corpo docente e discente no centro do projeto educacional; desenvolver políticas de apoio à saúde mental do corpo docente e dos diretores e criar uma rede de apoio para a comunidade escolar.

Sobre o estudo
O relatório foi assinado pelas pesquisadoras Lara Simielli, Maria Teresa Gonzaga Alves, Valéria Cristina Oliveira, Flavia Pereira Xavier e Gabriela Lotta. O período de análise foi entre fevereiro e maio de 2021, a partir dos dados do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira). Detalhes sobre a metodologia utilizada são apresentados no artigo Isolamento para todos, educação para poucos: o que a análise das estratégias educacionais no primeiro ano da pandemia nos ensina sobre o acirramento das desigualdades escolares no Brasil.

Foram selecionados dez municípios distribuídos pelo país e realizadas 99 entrevistas a distância (por telefone ou aplicativo Zoom) com diretores escolares e representantes das secretarias municipais de Educação.

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