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Livros do Leia com uma criança fazem parte de estratégia contra abandono escolar em Campo Grande (MS)


Jessica Candido, professora de português, com alunos do projeto de reforço escolar desenvolvido pela Cufa Campo Grande nos bairros de Nova Lima e Jardim São Conrado. Foto: Arquivo pessoal

Por Carla Gavilan, Rede Galápagos, Campo Grande

Depois do intenso trabalho de arrecadação de alimentos para as comunidades atendidas em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, nos dois primeiros anos da pandemia, Letícia Polidorio, coordenadora da Central Única das Favelas (Cufa) no município, focou a atenção em outro problema grave deixado pela Covid-19: as crianças não alfabetizadas durante o isolamento social. “Os órgãos competentes da educação disponibilizaram um programa de aulas on-line com materiais educativos para as nossas crianças e adolescentes. Contudo, os moradores dessas favelas já tinham um acesso limitado à internet e aos aparelhos tecnológicos antes da pandemia; com a crise sanitária, isso ficou ainda pior porque as famílias passaram a não ter o básico, como comida”, afirma Letícia.

Com a volta às aulas presenciais, o que parecia um alívio para as 36 mil mães cadastradas nas 39 favelas que recebem os projetos da Cufa Campo Grande na verdade trouxe outros desdobramentos na área da educação infantil. “As mães passaram a nos pedir ajuda com suas filhas e filhos que, apesar de terem passado o ano na escola, não sabiam ler, escrever nem fazer contas”, relata Letícia. “Em conversas com as famílias, percebemos que, depois da novidade da escola reaberta, do reencontro com os amigos, as crianças não conseguiam aprender e isso começou a afetar a presença delas na sala de aula, pois estavam desestimuladas a estudar e ir para a escola.” Após algumas reuniões entre os membros da organização e as mães, a central apresentou a situação a algumas pessoas e empresas parceiras com a intenção de angariar recursos para iniciar um projeto de contraturno escolar com aulas de reforço.

Aluno lê Enquanto o almoço não fica pronto…, de Sonia Rosa, com ilustrações de Bruna Assis Brasil, selecionado pelo edital Leia com uma criança, durante aula de reforço. Foto: Cufa Campo Grande

“Buscamos apoiadores que estão conosco há muitos anos e eles também buscaram outras pessoas”, diz Lívia Lopes, coordenadora da Cufa Mato Grosso do Sul. A ideia inicial era formar uma rede de incentivo para que as aulas acontecessem em duas comunidades, bairro Nova Lima e Jardim São Conrado, em um ambiente limpo, seguro, com um lanche e professores remunerados. “A proposta foi tão bem-aceita que passamos inclusive a receber doação de cesta básica e leite especificamente para as famílias que estivessem com filhos no projeto.”

Para as aulas de reforço, a Cufa utilizou como parte de seu material de atividades livros que recebeu, ainda em 2020, do programa Leia com uma Criança, do Itaú Social.“Fomos contemplados com mais de mil exemplares em um ano que nunca será apagado da história”, conta a coordenadora Letícia. “Hoje eles continuam a nos trazer alegria na alfabetização das nossas crianças, nas rodas de leitura que promovemos e nos nossos eventos literários.”

Professora de português e integrante da Cufa Campo Grande, Jéssica Cândido Oliveira explica que desde o início as crianças e os pais tinham a consciência de que era necessário estar presente na escola para participar do reforço. “As aulas funcionam em espaços da própria comunidade e vieram em um momento pós-pandemia muito necessário. Assim que surgiram as vagas, a procura foi grande e, com o início do projeto, muitos relatos de melhora na escola chegaram até nós”, conta.

Letícia Polidorio, com os livros do programa Leia com uma criança: Foto: Cufa Campo Grande

“Quando escola, comunidade e família trabalham juntas, os resultados são muito mais eficazes e foi isso que aconteceu. As crianças viam no espaço uma oportunidade de encontro, estudo e também alimentação, já que o momento do lanche sempre foi muito aguardado. Para nós, que somos da favela, as aulas de reforço trouxeram, ainda, um ciclo de incentivo entre família e aluno, entre comunidade e afeto.”

Aula de matemática do projeto de reforço da Cufa Campo Grande: melhores resultados à medida que os alunos recuperam a confiança. Foto: Arquivo pessoal

O desafio das primeiras aulas de matemática é relembrado pelo professor Alisson dos Santos Gomes, que apoia a iniciativa. “Foi bem difícil. Quase todos os alunos que tive no projeto não sabiam resolver nem como iniciar a resolução das atividades. Tivemos que iniciar com conteúdo simples e explicar desde o início as quatro operações básicas.”

O professor ressalta que nas aulas de reforço foi possível estabelecer um diálogo e reforçar a autoestima dos estudantes. “Assim o aluno passa a ter uma motivação que o torna mais confiante na escola.”

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