Neste Dia das Mulheres (08), a matemática, que é frequentemente associada ao gênero masculino, ganha um novo protagonismo. No edital “Matemática nos Anos Finais do Ensino Fundamental”, a presença feminina superou a masculina, com onze das 18 propostas selecionadas pela iniciativa sendo lideradas por mulheres.
O projeto da professora Bruna de Sousa de Oliveira, de Brasília (DF), foi uma das onze propostas selecionadas pelo edital. A docente foi reconhecida por criar o Laboratório de Matemática Móvel e Virtual, que utiliza recursos interativos, como jogos didáticos, sólidos geométricos escaneados em 3D e um podcast sobre a história de grandes pensadores da matemática, para engajar os estudantes. “Quando eles interagem com esses materiais, percebo que se sentem mais curiosos”, explica Bruna.
ℹ️ Autoconfiança melhora desempenho em matemática, diz pesquisa
Já a proposta da professora Valéria de Souza Farias, do Rio Grande (RS), buscou integrar a matemática com outras disciplinas, como história, artes e ciências. “Essa abordagem promove uma visão holística do conhecimento, tornando o aprendizado mais significativo”, afirma.
A iniciativa é realizada anualmente e o tema de 2024 sugerido pelos alunos foi os 12 trabalhos de Hércules, o que permitiu explorar a cultura grega e conhecer figuras como Arquimedes, Newton e Pitágoras. A proposta incluiu jogos educativos, competições e projetos interdisciplinares que incentivam a colaboração entre os alunos.
ℹ️ Programa Mentalidades Matemáticas é lançado em Mato Grosso do Sul
O edital é uma parceria entre Itaú Social e Secretaria de Educação Básica do MEC (Ministério da Educação), que visa valorizar práticas inovadoras de aprendizagem em escolas públicas entre o 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental. As propostas foram distribuídas em duas modalidades: Reconhecimento, para práticas já consolidadas pelo país; e Fomento, para iniciativas em fase de planejamento.
Mulheres na matemática
Apesar do protagonismo feminino no edital, os dados do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Aluno) 2022 mostram que os meninos têm um desempenho superior em matemática, com uma diferença de oito pontos em relação às meninas. Além disso, a proporção de estudantes com baixo desempenho na disciplina é maior entre o público feminino (76%) do que entre o masculino (71%), conforme apresenta a nota técnica elaborada pelo Observatório Fundação Itaú.
A tendência se repete no mercado de trabalho, com mulheres liderando apenas 31% das ocupações vinculadas à matemática, contra 69% dos homens. Os dados são da pesquisa “Contribuição dos trabalhos intensivos em Matemática para a economia brasileira”, do Itaú Social, que também revelou que tais posições oferecem salários 119% maiores que a média dos demais trabalhadores.
A pedagoga Daniela Couto Guerreiro Casanova, uma das coordenadoras do estudo “Sucesso escolar”, explica que esse fenômeno é reflexo da formação inicial das crianças. “Desde pequenas, as meninas recebem diários ou cadernos para escreverem, por exemplo. São estimuladas a brincar de escolinha, secretaria, dentre outros jogos de papéis nos quais o ‘papel ideal da mulher’ está representado”.
Iniciativas pedagógicas reconhecem essa desigualdade na aprendizagem e buscam alternativas para tornar a aprendizagem mais acolhedora às alunas. No Rio de Janeiro (RJ), parte dos professores adotaram a abordagem STEAM, que integra as diversas áreas do conhecimento para fomentar o aprendizado de forma mais criativa e colaborativa.