A educação no novo mundo, por onde (re)começar?
Esta foi a questão debatida na edição especial do encontro de parceiros de 2022. O evento ocorreu em 05 de maio, quinta-feira, e contou com 65 participantes que se reuniram para pensar e discutir sobre o sistema educacional do Brasil nesta nova fase de retomada. O encontro marcou o início da construção de um editorial sobre o tema que será publicado pelo Itaú Social nos próximos meses e tratou – em um workshop com os participantes – quatro pontos relacionados aos desafios educacionais com objetivo de gerar uma reflexão conjunta. Os pontos foram:
Equidade
Currículo e Tecnologia
Desenvolvimento integral: OSCs e Redes Locais
Professoras e demais profissionais da educação
Workshop
Para introduzir o tema do encontro e contextualizar os participantes para o momento do debate, foi apresentado um vídeo de abertura com recorte de lives e eventos do Itaú Social nos últimos dois anos. O vídeo apresentou uma retrospectiva sobre o período em que as escolas estiveram fechadas até os dias atuais, dando ênfase a questões estratégicas para a agenda a partir da visão de pesquisadores, especialistas, gestores e secretários de educação. Abaixo você pode assistir o vídeo:
Para apoiar na discussão, os convidados foram estimulados a refletir sobre os seguintes aspectos: 1) razões para o esperançar – partindo do referencial de Paulo Freire; 2) tendências e oportunidades do campo educacional; 3) pontos de alavancagens, ou seja, aspectos centrais para mover o ponteiro da aprendizagem; e 4) questões para ficarmos alerta.



Além do diagrama, cada mesa recebeu um cubo destacando dados de pesquisas do Itaú Social e parceiros – condizentes com o tema da mesa – e um QRcode, onde poderiam encontrar detalhamento das informações relacionadas. Dentro dos cubos, a dupla mediadora de cada mesa (equipe do Itaú Social), poderia também recorrer a cards de perguntas para estimular ainda mais o debate. Para compor o material do editorial, os participantes puderam gravar depoimentos respondendo a pergunta central do evento ou trazendo reflexões a partir da participação nas mesas.



Breve sistematização dos pontos debatidos durante o workshop
Equidade
Enfrentar as desigualdades de aprendizagem considerando o olhar para toda a rede (escolas e OSCs) e para cada aluno
A pandemia acentuou drasticamente as desigualdades do sistema educacional. Durante o período de fechamento das escolas, 60% de jovens brancos acessaram as aulas mediadas por professores, enquanto para jovens pardos e pretos essa proporção foi menor, 51% e 44% respectivamente (ITAÚ SOCIAL, 2021). Esse cenário apresenta o desafio de lidar com a diversidade e desigualdade não só entre regiões e escolas, mas dentro de cada sala de aula e de cada organização social.
Segundo o grupo reunido, uma força importante a ser considerada é o compromisso de profissionais da educação em tratar a equidade como agenda prioritária – inclusive evidenciada pela pandemia. O trabalho intersetorial e colaborativo também foi uma das estratégias apontadas para o alcance da equidade. Diagnósticos e avaliações foram destaques na conversa, com o objetivo de entender o cenário de maneira sistêmica e atuar com públicos prioritários para a recuperação das aprendizagens – ao mesmo tempo que o risco de estigmatização pela separação por grupo também foi mencionado. De acordo com o debate, uma das tarefas fundamentais será olhar para as redes e para os territórios e trabalhar com foco para a oferta de educação de qualidade para todos.
Currículo e Tecnologia
Compreender a transformação do conhecimento e das linguagens para criar novas estratégias de ensino
Com o distanciamento social estabelecido, escolas tiveram que se reinventar e criar estratégias de adaptação do currículo, além de aprender a como usar a tecnologia para que a aprendizagem se mantivesse. Muitos esforços foram feitos pelos professores, educadores e gestores para que as atividades continuassem chegando para crianças, adolescentes e jovens de todo país. Contudo, mais de 20 milhões de domicílios brasileiros continuam sem acesso à internet (ITAÚ SOCIAL, Et. al, 2021) e para 54% dos jovens o currículo escolar precisa abordar outras questões, como por exemplo, aspectos relacionados à saúde mental e socioemocionais (CONJUVE, 2021). Frente a este cenário, é necessário compreender a transformação do conhecimento e das linguagens para criar novas estratégias de ensino que alcance todos os públicos.
Na mesa de debate, houve o reconhecimento coletivo da aprendizagem do uso de tecnologia por parte dos professores, alunos e famílias. No entanto, foi recorrente a fala sobre qualificação no uso dos dispositivos e formação adequada para este fim. O FUST (Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações) foi um dos pontos em destaque, já que levanta questões sobre este volume expressivo de recursos pode ser melhor aproveitado neste momento de retomada.
O currículo, por sua vez, apareceu como um lugar para ser repensado, considerando os múltiplos cenários de estudantes e escolas. Obstáculos em torno da implementação da BNCC (Base Nacional Curricular Comum) também foram amplamente discutidos. Fornecer formações contínuas para professores e gestores nesta nova realidade, além de equipar melhor as escolas públicas, foram ações mencionadas como prioritárias para o planejamento.
Desenvolvimento integral: OSCs e Redes Locais
Mobilizar múltiplos agentes e iniciativas para recuperação das aprendizagens e a promoção da educação integral
Uma herança deste momento de crise é o reconhecimento de que o coletivo é importante para o desenvolvimento educacional do país. A escola não existe sem o bairro, sem a biblioteca, sem as organizações sociais, sem as famílias e o território. O trabalho com OSCs e Redes Locais durante esse período é fundamental para manter o desenvolvimento pleno de crianças, adolescentes e jovens em todas as suas dimensões. Em um país onde mais de 500 mil organizações dedicam-se ao desenvolvimento e à garantia de direitos (ITAÚ SOCIAL, UNDIME, UNICEF, Prelo), a ação de mobilizar múltiplos agentes e iniciativas é necessária para a recuperação das aprendizagens, combate à evasão escolar e a promoção da educação integral.
O voluntariado e o trabalho mobilizado pela sociedade civil ganharam destaque entre os participantes, que mencionaram ser necessário descobrir novas formas de atuar, aprender e se articular para a promoção da educação integral. A defasagem dos estudantes, como a falta do exercício da leitura e aumento da evasão escolar, também foi um ponto de preocupação entre os debatedores. Neste aspecto, foi mencionada a importância do investimento institucional em OSCs e Rede Locais para que estes atores apoiem as escolas e seus territórios.
Professoras e demais profissionais da educação
Como apoiar profissionais da educação para atuar neste novo mundo
A educação se faz na troca entre educador e educando, pelo convite ao ato de conhecer e de seguir aprendendo mais. Durante a pandemia, esta relação foi importante para a aprendizagem de milhares de estudantes no Brasil. Destaca-se o termo professoras pelo fato de que são as mulheres que ocupam majoritariamente o cargo de educadoras no país, 97,5% nas creches e 58% no ensino médio (ITAÚ SOCIAL, Et. al, 2021), e são elas que passaram por desafios imensos nos últimos dois anos, como a redução de salários e aumento da carga horária de trabalho. Repensar a educação no mundo pós-pandemia é apoiar os profissionais da educação, figuras centrais no sistema educacional, e cuidar enquanto sociedade dessa relação preciosa entre educando e educador para que ela aconteça da melhor maneira.
A valorização da profissão docente foi um dos pontos de esperançar que os participantes apontaram nesta área, mostrando como estudantes e suas famílias se aproximaram desta figura por meio da tecnologia. Ainda assim, segundo o grupo, é necessário um pensar sistêmico na educação para garantir as condições de trabalho adequadas para as professoras e todos os profissionais da educação.
Os detalhamentos das conversas vão compor o editorial que será desenvolvido nos próximos meses e reforçará os posicionamentos do Itaú Social frente a este novo cenário, contribuindo para o debate público sobre educação.
