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IBGE reconhece a existência de 1,3 milhão de quilombolas

Conheça algumas iniciativas pedagógicas apoiadas pelo Itaú Social que valorizam as produções de conhecimentos dos quilombos


No fim de julho saíram os dados do Censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostrando que o Brasil conta com 1,3 milhão de quilombolas. Esse levantamento é inédito e importante para a compreensão integral dessa população, podendo auxiliar como guia na criação de políticas públicas que valorizem suas características sociais e culturais.

“A partir do reconhecimento da população quilombola nos índices oficiais, podemos compreender a relevância desse grupo e seus desafios. Parte das adversidades identificadas está na educação, que pouco aborda a cultura e a história quilombola nas salas de aula, ficando restritas a determinados projetos pedagógicos. A nossa expectativa é que os novos dados inspirem escolas e secretarias de Educação a incluírem no currículo escolar o impacto desse grupo na sociedade, conforme previsto na Lei 10.639/13”, avalia a coordenadora de Educação Infantil do Itaú Social, Juliana Yade.

Confira algumas das iniciativas pedagógicas que valorizam a história e cultura quilombola no Brasil:

Descortinando a história – Porto Alegre (RS)
O Rio Grande do Sul é um dos estados com a menor presença da população quilombola do país, de acordo com o Censo do IBGE. No entanto, o projeto “Zumbi-Dandara dos Palmares: desafios estruturais e pedagógicos da educação escolar quilombola para a promoção da equidade racial no Brasil do século XXI” se dedicou a mapear as comunidades e a identificar as experiências escolares do grupo.

“Em Porto Alegre, há bairros inteiros que eram territórios negros, mas que sofreram, durante no século XX, a violência do racismo, sendo considerados, desde então, áreas dos brancos. Portanto, é dever da escola antirracista, comprometida com a transformação social, elaborar outros imaginários sociais e simbólicos a respeito da presença ou da ausência  negra”, defende o professor UFRGS (Universidade Federal de Rio Grande do Sul) Alan Alves Brito, responsável pelo projeto.

Parte dessa experiência está presente no documentário “Em Frente”, que coleta depoimentos de professores e estudantes sobre as práticas racistas dentro do ambiente escolar. A produção foi uma das premiadas no 16º Festival Visões Periféricas, na categoria “Júri Popular da Mostra Fronteiras Imagináveis”.

Além da produção audiovisual, o trabalho também resultou na publicação “Re-existências Negras: Caderno de Memória”, que exibe retratos dos alunos e dos funcionários da escola Dr. Liberato Salzano Vieira da Cunha. O objetivo do conteúdo é retratar o cotidiano com o foco no cuidado e na autoestima de adultos e crianças negras.

O projeto também produziu o livro “Bará: corpos-territórios em r(existência)” sobre a memória e a cultura da população negra da capital gaúcha; e o jogo “Colha Palavras”, que registra plantas com alguma função medicinal que fazem parte de uma cerimônia curativa. Todos esses itens estão disponíveis gratuitamente no acervo digital Anansi – Observatório da Equidade Racial na Educação Básica.

A arte para preservar – Afogados da Ingazeira (PE)
Para os povos originários, a música e a dança não são simples entretenimento, mas uma forma de reverenciar determinada cultura. É com base nessa proposta que professores da Escola Municipal Levino Cândido, do município Afogados da Ingazeira (PE), trabalham com os estudantes da comunidade quilombola Leitão da Carapuça.

As aulas de música e coco de roda, dança típica da comunidade do território, permitem que os docentes repassem os saberes populares regionais às crianças e aos adolescentes.  “Identificamos não só a dificuldade de passar os aspectos culturais para as novas gerações, como também a falta de interesse dos jovens em manter viva a cultura”, destaca a coordenadora Joana D’Arc de Oliveira, responsável pelo projeto.

Um exemplo da relevância desse projeto foi quando o último tocador pife (também conhecido como pífano) da comunidade faleceu. O instrumento musical de sopro faz parte da cultura daquele quilombo. Para manter viva esse costume, a escola se mobilizou para realizar oficinas com os estudantes sobre essa e outras tradicionais práticas musicais..

Jogos e atividades – São Francisco do Conde (BA) e Moju (PA)
A diversão também é utilizada como maneira de preservar os saberes tradicionais, como mostram os projetos escolares dos municípios de São Francisco do Conde (BA) e Moju (PA). A experiência das iniciativas resultou em cartilhas que reúnem jogos e dinâmicas de origem africana e afro-brasileira que podem ser aplicadas em sala de aula.

“Para nós, brincar e ter acesso ao letramento são igualmente importantes e colaboram para o desenvolvimento integral da criança. Não temos motivos, portanto, para abrir mão da brincadeira na Educação Infantil. Ela é um importante lugar de aprendizagem”, explica a professora Mighian Danae, responsável pela publicação “Brincar e descolonizar: educar para a equidade”.

Todas as brincadeiras apresentadas no livro foram aplicadas nas escolas quilombolas Dorival Passos e José de Aragão Bulcão, localizadas nos municípios baianos de Santo Amaro e São Francisco do Conde. 

Já no Pará, o foco foi trazer os depoimentos de moradores, lideranças comunitárias e profissionais da educação das cinco escolas do território quilombola de Poranga. A partir da pesquisa, os educadores listaram atividades pedagógicas que têm relação com a experiência infantil dos entrevistados.

“Um dos principais objetivos do material é existir, resistir e lutar por uma educação antirracista. Assim, temos a satisfação de compartilhar nosso Caderno-Cartilha, recheado de relatos e sugestões de experiências exitosas no chão das escolas”, conta a professora Waldirene dos Santos Castro, uma das autoras do conteúdo.

Sobre o Censo

  • A maioria dos quilombolas está localizada na região Nordeste, com 905 mil pessoas (68% dessa população). As regiões Sudeste e Norte registraram 182 mil e 166 mil, respectivamente. Por fim, Centro-oeste e Sul são os locais de menor incidência, com 44 mil e 29 mil;
  • Os quilombos surgiram durante a colonização no Brasil como forma de resistir às violências praticadas pelos portugueses. Atualmente, as comunidades são formadas por descendentes desses nativos e ex-escravizados.

Sobre educação antirracista

  • Levantamento do Todos pela Educação mostra que, em 2021, apenas metade das escolas possuíam ações de combate ao racismo, o menor índice em dez anos;
  • Dados do Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica) revelam que 64% dos brasileiros, entre 16 e 24 anos, declaram que a escola é o lugar onde mais sofrem racismo;
  • A mesma pesquisa lista que as manifestações racistas mais comuns são as verbais, que compreende xingamentos e ofensas, com 66% das respostas. Em seguida, aparecem o tratamento desigual, com 42%, e a violência física, 39%;
  • Outro apontamento do estudo mostra que o local em que mais ocorre violência física contra pessoas negras é na unidade de educação básica (29%).

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