Para despertar mais interesse dos estudantes pela matemática, professores estão trocando o lápis e a lousa pela culinária, pela vivência em comunidade, pelos jogos e até mesmo pelas pinturas corporais étnicas. Parte dessas estratégias pedagógicas fazem parte do programa “Mentalidades Matemáticas”, desenvolvido pelo Itaú Social e Instituto Sidarta.
A abordagem foi elaborada pela professora de Educação Matemática da Universidade Stanford (EUA), Jo Boaler, que incentiva discussões colaborativas e valoriza as diferentes maneiras de pensar a disciplina, para além de métodos, operações, fórmulas e memorização.
No Brasil, essa experiência já é vivenciada desde 2022 no município de Vespasiano (MG). Neomaria Costa, uma das docentes envolvidas na iniciativa, explica: “Estamos levando para as crianças e adolescentes um trabalho diferenciado e prazeroso. Nesse formato, o estudante é o protagonista de sua aprendizagem e nós, professores, estamos presentes para mediar e incentivar a prática da construção de conhecimento de forma colaborativa e divertida”.
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A abordagem “Mentalidades Matemáticas” serviu para a criação de três cursos disponíveis no Polo, ambiente de formação do Itaú Social. Essas formações podem ser acessadas por professores e gestores públicos de qualquer localidade que tenha interesse em replicar a iniciativa em suas respectivas escolas.
Valorização étnica
A matemática também pode ser usada como ferramenta de valorização da cultura negra e dos povos originários. Na comunidade quilombola Mata Cavalo, localizada em Nossa Senhora do Livramento (MT), a professora Claudicéia Celeste da Silva decidiu utilizar os costumes do território para ensinar a disciplina aos estudantes.
“Resolvi investir no ensino da etnomatemática para despertar nos meus alunos a mesma sensação de pertencimento que senti e, assim como eu, percebam a matemática nas mais diversas situações do cotidiano. Por meio da ênfase nas práticas culturais das comunidades tradicionais, eles têm aulas mais descontraídas e o conteúdo é absorvido intuitivamente”, explica a docente.
Essa experiência considerou tudo que poderia ser transformado em números, desde a quantidade de moradores, a culinária local, as gravuras étnicas e as casas de barro.
A abordagem etnomatemática também foi a inspiração para o projeto de pesquisa “Etnomatemática, Modelagem Matemática e Formação de Professores”, coordenado pela professora Cristiane Coppe de Oliveira e realizado em Pontal do Triângulo Mineiro (MG). A iniciativa promoveu formações com docentes do município, além de ações pedagógicas nas escolas envolvidas.
Desafios na educação
De acordo com os familiares dos estudantes, 71% dos estudantes precisam de apoio para a aprendizagem da matemática. O resultado faz parte da pesquisa “Educação na perspectiva dos estudantes e suas famílias”, realizada pelo Datafolha, a pedido do Itaú Social, da Fundação Lemann e do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento).
Outro indicador que mostra a lacuna do ensino da disciplina é o Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica), revelando que apenas 5% dos alunos brasileiros, que terminam o Ensino Médio em escolas públicas, alcançam nível adequado de aprendizagem em matemática.
Mentalidades Matemáticas
O programa já formou cinco mil professores nas cidades de São Paulo, Cotia (SP), Altamira (PA) e Santana do Ipanema (AL), impactando a vida de mais de 1 milhão de alunos. Apesar de ter passado por outros municípios, a abordagem se destaca em Vespasiano, onde foi possível envolver toda a rede de ensino.
Edital de Equidade Racial
O Edital Equidade Racial na Educação Básica é uma iniciativa do Itaú Social, realizada pelo Ceert (Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades), em parceria com o Instituto Unibanco, Fundação Tide Setubal e o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância).