

Por Caco de Paula, Rede Galápagos, São Paulo
Momentos de grande comoção, caso dos recentes ataques nas escolas, podem turvar as percepções e levar a impressões erradas. No calor dos acontecimentos e do noticiário, algumas famílias passaram a acreditar, por exemplo, que, como os ataques aconteceram em escolas, elas não são ambientes seguros e que, por isso, não devem enviar os seus filhos para lá. O argumento não resiste aos fatos. A escola é, sim, um lugar seguro; é o instrumento social que conta com os profissionais mais bem preparados para trabalhar com educação e proteger a infância; e, diante do problema da violência, a escola exerce um decisivo papel como parte da solução e não do problema. Maior aliada no combate à violência contra a infância, a escola é o canal pelo qual a sociedade conhece sete em cada dez denúncias de violência sexual infantil registradas no país. Um crime sabidamente subnotificado, que acontece nas casas das crianças. Donde, antes de mais nada, é preciso adotar a perspectiva correta para que os recentes episódios — lamentáveis e inadmissíveis — não apenas não se repitam, mas que também não se tornem mais um ataque à escola. Em um momento em que um ataque à própria instituição escolar, conquista civilizatória e direito da criança, está sob ataque também na forma de um projeto de lei pela instituição do homeschooling. Isso é apenas um pouco do tanto que pode aprender quem escuta Laís Peretto, diretora executiva da Childhood Brasil, e pergunta a ela o que é mais importante trazer ao diálogo com famílias e educadores neste momento marcado pela violência. “A prioridade mesmo é ressaltar que o ambiente escolar é seguro”, reforça.
Pedagoga e administradora, Laís Peretto dirige o braço brasileiro da World Childhood Foundation, instituição criada pela rainha Silvia, da Suécia, com o objetivo de defender os direitos da infância e promover melhores condições de vida para crianças em situação de vulnerabilidade em todo o mundo.
Com atuação focada prioritariamente no combate à violência sexual contra crianças e adolescentes, a Childhood tem uma visão ampliada sobre o assunto. “São violências que se cruzam”, explica Laís, lembrando a complexidade do problema e a dimensão de um dado pouco presente na consciência nacional: o número de crianças e adolescentes assassinados no Brasil chega a 7 mil por ano.
Com sua expertise sobre o tema, a Childhood participa de vários projetos e programas e já colaborou com o Itaú Social na produção do curso Prevenção da violência on-line na primeira infância, que está disponível no Polo. Para esta edição de Notícias da Educação conversamos com Laís Peretto sobre os ataques nas escolas e sobre os riscos do ambiente digital na infância e adolescência também nesse contexto. Enquanto prepara uma nova edição do guia da Childhood para navegação segura, que deverá ser publicado em breve em formato multimídia, Laís destaca na entrevista e traz sugestões de conteúdos úteis para educadores, famílias e responsáveis.

- Conversando com as crianças sobre o que aconteceu. É preciso tomar muito cuidado ao tratar desse assunto com as crianças. Cuidado com o acesso que a criança terá às informações sobre o que aconteceu. Saber quanto a criança já sabe sobre o assunto — e conversar a respeito. Enfatizar que o que aconteceu foi uma exceção e que o ambiente escolar é seguro.
- É muito importante que as crianças e adolescentes entendam que a vida é uma só. E que só devemos nos conectar com pessoas que conhecemos na vida real; não dar informações sobre nossa rotina nem algum tipo de informação pessoal para estranhos.
Dicas para educadores
Saiba como pode contribuir para que a sua escola seja consciente e atuante sobre a presença de crianças e adolescentes no ambiente digital:
• Disponibilize a escola como um espaço de disseminação de informações e debates sobre o tema.
• Reflita sobre o uso responsável das redes sociais e aplicativos de mensagem instantânea, como o WhatsApp.
• Inclua discussões sobre sexualidade e a sua banalização e superexposição nos meios de comunicação.
• Promova encontros de reflexão e atividades de integração entre pais, professores e alunos.
• Promova com os alunos a noção de autocuidado e autoproteção no âmbito da educação para autonomia.
• Use dados estatísticos, histórias reais e notícias para informar a todos sobre a melhor maneira de proteger crianças e adolescentes contra o abuso on-line e a pornografia infantil, além de evitar sua exposição a conteúdos inapropriados.
• Observe o comportamento dos alunos e alerte-os sobre os riscos da internet.
Fontes: Childhood/cartilhas Saferdic@s e Navegar com segurança, da SaferNet
Conheça a série “Que corpo é esse? Prevenção on-line“ no Youtube e saiba mais sobre o assunto. Os episódios apresentam de modo atrativo e didático situações em que a prevenção on-line é a melhor forma de evitar alguns dos problemas mais recorrentes de violência no mundo virtual. Com personagens e temporadas específicas para três faixas etárias (de 0 a 7 anos, de 8 a 13 anos e acima de 14 anos).
Acompanhe o que as crianças estão fazendo
O ambiente virtual pode favorecer ações violentas, inclusive com jogos violentos em que assassinar crianças e pessoas de forma geral são naturalizados. Os pais precisam ter dimensão de que o ambiente virtual é muito similar ao da rua, do mundo real. Não se deixam crianças sozinhas na rua e não se deixam crianças sozinhas no meio virtual.Os responsáveis precisam ter cautela e ser presentes.
- Acompanhe as experiências das crianças e adolescentes na internet.
- Defina condições para o uso da internet, como limite de tempo, sites, redes sociais e aplicativos permitidos.
- Ensine a não falar com estranhos nem compartilhar senhas ou informações pessoais.
- Oriente a sempre se comunicar com educação.
- Respeito deve valer em qualquer espaço.
- Utilize a ferramenta de controles parentais nos dispositivos e redes sociais.
- Lembre-se de que a melhor maneira de prevenção é o diálogo.
É interessante que educadores e famílias conheçam a SaferNet, site de denúncias que orienta crianças, adolescentes, pais e responsáveis que estejam enfrentando qualquer situação de violência no ambiente digital, como violência sexual, exposição forçada em fotos e filmes, chantagem, entre outros. Denúncias podem ser feitas por este link: Denuncie
Diálogo é a ferramenta fundamental
Conversar sobre o uso da internet com crianças e adolescentes é mais importante do que impor proibições rígidas. Assim como todo processo educativo, há limites que precisam ser definidos e que devem estar claros.
“Um bom caminho para garantir a autoproteção da criança ou adolescente é o diálogo. É muito importante falar sobre o que é estar seguro na internet, limites do corpo mesmo no mundo virtual, conceitos sobre privado e público e o que fazer caso sinta que algo errado está acontecendo. Sabemos que não é aconselhável deixar uma criança atravessar a rua sozinha sem orientação, e essa regra também deve valer para o uso da internet”, reforça Laís Peretto.
Os pais e responsáveis devem ficar atentos e estranhar se crianças e adolescentes passarem a permanecer por muito tempo no celular ou em chats com pessoas que até então não faziam parte do círculo social. Ou se passarem a agir como se estivessem escondendo algo, como fechar um aplicativo quando um adulto se aproxima. E é recomendável lembrar-lhes que nenhum aplicativo impede que uma imagem enviada seja capturada e depois compartilhada sem o consentimento de quem está nela.