

Por Wallace Cardozo, Rede Galápagos, Salvador
Depoimento de Silvan da Silva, mestre em ciências da educação, professor, pedagogo, pós-graduado em gestão de políticas públicas e em gênero e diversidade na escola — e cursista do Polo
Trinta e três anos não são trinta e três dias, como dizem. Já vi muita coisa nesta minha jornada enquanto profissional da educação. Além de lecionar, atuei como gestor, em escolas das zonas urbana e fui subsecretário de Cultura de Cruz do Espírito Santo, no interior da Paraíba. O município é pequeno e carente. Moro aqui desde criança e conheço bem as dificuldades da nossa região.
Há muito tempo entendi que a educação é a principal alternativa para sonhar com um futuro diferente e, por isso, decidi que trabalharia na área. Realizei o sonho quando me formei em pedagogia e comecei a dar aulas para o ensino fundamental 1. Contudo, logo entendi que o caminho tem muito mais obstáculos do que eu poderia imaginar e a educação, sozinha, não dá conta de superar todos eles. Os estudantes precisam comer, ter acesso a cultura e lazer, sentir-se seguros.
Em pequenos municípios, tudo tende a ser mais difícil por causa da menor quantidade de recursos e de como funciona o poder. Quem o detém geralmente não quer abrir mão dele ou dialogar de forma coletiva para uma construção democrática. Lembro que, quando fui secretário, insisti sem sucesso na ideia da construção de uma biblioteca pública municipal. Nesse sentido, as organizações da sociedade civil (OSCs) cumprem um papel fundamental na vida de muitas pessoas.
Sou vice-presidente e coordenador pedagógico e de projetos da Resgatando Vidas. Trabalhamos com atividades culturais e esportivas para um público de 12 a 17 anos, principalmente aqueles estudantes matriculados em escolas localizadas em zonas vulneráveis e os que possuem dificuldades no processo de aprendizagem. Também atuamos com doações de roupas e alimentos para quem precisa. Passamos por dificuldades durante a pandemia e quase precisamos encerrar as atividades, mas agora nos organizamos para voltar.
Estou de licença do ofício de professor devido a um problema de saúde e tenho aproveitado o tempo em casa para avançar nas demandas da OSC, o que inclui a minha capacitação. Eu já conhecia o Polo, mas ainda não tinha parado para fazer algum curso. Pensando no nosso trabalho de mediação cultural, buscava uma formação que me desse subsídios para trabalhar com adolescentes no incentivo à leitura. Esse período afastado me fez perder o contato com a prática diária e é importante estar atualizado. Resolvi fazer a formação chamada Mediação de Leitura para Juventudes.
Acredito que muitas pessoas deveriam fazer esse curso. Professores, gestores, facilitadores, oficineiros. Quem trabalha com crianças e adolescentes precisa estar num eterno processo de reciclagem porque as demandas desse público são muito dinâmicas. Apesar da curta carga horária (10 horas), levei uma semana para fazer toda a formação porque parava o tempo todo para buscar informações adicionais sobre os temas apresentados. Acho até que o curso poderia ter umas 20 horas, porque são muitos assuntos para explorar.
Para além de incentivar os jovens à leitura, eu queria entender como promover uma reflexão a partir dessa atividade. O principal aprendizado foi entender que o papel da pessoa mediadora é desenvolver nos adolescentes a motivação para que busquem o pensamento crítico por conta própria. O protagonismo é deles e eu estarei ali para conduzir e dar o apoio necessário.
Tudo isso caiu como uma luva para o momento atual. Estamos organizando a biblioteca da Resgatando Vidas e agora já tomamos as decisões levando em consideração os conteúdos do curso e a promoção do protagonismo juvenil. Sinto que meu olhar e minha prática já estão diferentes. Recomendei o Polo a todos os outros colaboradores da OSC e também ao pessoal da Secretaria Municipal de Educação. E, claro, estou de olho nos próximos cursos que farei por lá. Afinal, ainda há muito para aprender, mesmo depois de 33 anos.
Saiba mais
- Mediação de Leitura para Juventudes
- Acesse formações práticas, certificadas e gratuitas no Polo
- Recursos Educacionais Digitais (REDs)